Álcool e vandalismo. Pedidos de videovigilância na Cidade Universitária aumentam
A má iluminação, o mau cheiro da urina e lixo e o consumo excessivo de álcool e droga são alguns dos problemas identificados na zona.
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É sexta-feira e o dia está cinzento. Jovens movimentam-se nas ruas com copos de cerveja na mão, um ou outro urina no passeio junto à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no Campo Grande. Ainda não são 19h00.
A agência Lusa chega ao local pelas 18h00 para falar com o presidente da Associação dos Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa (AEFCL), que digita o contacto da polícia no telemóvel para denunciar um caso de agressões entre grupos. "Se vocês tivessem chegado cinco minutos antes, teriam visto cenas de pancadaria", suspira Eliezer Coutinho.
O presidente AEFCL conta que o mau ambiente na zona, pertencente à freguesia de Alvalade, nem sempre é uma realidade, mas tem sido um cenário recorrente nos últimos tempos.
"Há dias em que quem está aqui a consumir é pessoal da faculdade ou da universidade - não estranho ao ensino superior - e acaba por criar um bom ambiente. O problema surge maioritariamente em dias de jogos do Sporting CP", relata Eliezer Coutinho, descrevendo que nesses dias, "muito problemáticos", a rua fica "o descalabro": há desde pirotecnia a um consumo excessivo de álcool e droga.
De acordo com o dirigente estudantil, há muitas vezes na zona pessoas externas à faculdade que ali permanecem a consumir álcool e a provocar distúrbios até altas horas da madrugada.
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Mau ambiente motiva pedidos de videovigilância
Com má iluminação, cheiros nauseabundos da urina e lixo na rua, o ambiente torna-se desconfortável para quem passa. "Não há casas de banho suficientes para esta gente toda", refere o presidente da AEFCL, contando que as pessoas urinam no meio da rua e no parque de estacionamento da Faculdade de Ciências.
Eliezer Coutinho considera a implementação de videovigilância importante e diz que os estudantes não se têm sentido seguros: "A área é tão grande que policiar isto tudo eficientemente acaba por ser complicado."
Quem concorda com Eliezer Coutinho é o presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa (AAFDL), Filipe Gomes, que mais acima, em frente daquele estabelecimento de ensino, defende que a videovigilância e melhor iluminação "podem dissuadir por completo este tipo de atividades ilícitas". "Os estudantes sentir-se-iam muito mais confortáveis sabendo que existe esse sistema de videovigilância", observa.
Para o presidente da AAFDL, há zonas mais problemáticas do que outras, como a área dos bares junto à Faculdade de Ciências - nos últimos tempos tem havido assaltos a carros e dentro das faculdades durante o dia, por ser difícil controlar os acessos. Porém, assinala, tem existido empenho da Universidade de Lisboa, do município e da polícia - com o projeto Universidade Segura - em tentar resolver o problema. "Nós temos uma linha muito direta para com os polícias do Universidade Segura", atesta.
Ainda assim, a iluminação é insuficiente e há candeeiros que não estão a funcionar por falta de manutenção ou atualização. "Sentimos que as imediações da Faculdade de Direito, da Faculdade de Farmácia e da Faculdade de Ciências são as principais afetadas. É também onde se encontra o maior número de atividade ilícita", constata.
O presidente da Junta de Freguesia de Alvalade considera que o "momento de insegurança" é preocupante desde novembro de 2019 e entende que a introdução de videovigilância na Cidade Universitária pode baixar os níveis de criminalidade.
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Consumo excessivo de álcool é o maior problema
É no centro do Jardim do Campo Grande que José António Borges (PS) sugere a instalação de câmaras de vigilância. A venda de bebidas alcoólicas é, segundo o autarca, o principal problema - pode-se comprar 20 centilitros de cerveja a 60 cêntimos e meio litro a 1,20 euros.
"O problema aqui é significativamente um: é a venda a preços muito baratos de bebidas alcoólicas nas imediações da Faculdade de Ciências, num espaço que, sendo amplo e não muito povoado, a certas horas da noite pode providenciar alguma de taxa de criminalidade", anota.
À Lusa, o dirigente socialista conta que está "sistematicamente em contacto" com a reitoria para solucionar o problema, diz que não são os alunos da Universidade de Lisboa quem mais consome álcool de forma excessiva.
A 21 de janeiro, todos os partidos políticos da Assembleia Municipal de Lisboa aprovaram por unanimidade uma recomendação para mais iluminação e policiamento no campus universitário, incluindo nos parques de estacionamento.
Na recomendação apresentada pelo Partido da Terra (MPT) era defendido ainda que a zona da Cidade Universitária deve estar contemplada "no estudo das zonas da cidade com futura videovigilância", ponto que foi aprovado por maioria, com os votos contra de BE, PCP, PEV e de três deputados municipais independentes. Outros quatro deputados municipais independentes optaram pela abstenção.
Na Assembleia Municipal de Lisboa estão representadas as forças políticas PS, PSD, CDS-PP, PCP, BE, PAN, PEV, MPT e PPM.
A 28 de dezembro de 2019, um jovem de 24 anos foi assassinado na sequência de um assalto com arma branca, junto à Faculdade de Ciências. Os três suspeitos do assassínio cumprem prisão preventiva, depois de terem sido presentes a primeiro interrogatório judicial perante um juiz de instrução criminal a 7 de janeiro.
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