Relatório sobre comportamentos aditivos encontra vários retrocessos, sobretudo no álcool e coincidindo com o fim da crise.
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Quase todos os indicadores relacionados com o consumo excessivo de álcool estão a agravar-se. Entre eles as embriaguezes entre os jovens, os internamentos e readmissões em clínicas de tratamento, mas também a mortalidade por intoxicações alcoólicas ou em acidentes sob a influência de álcool.
O retrato é feito no último relatório, consultado pela TSF, da Coordenação Nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso Nocivo do Álcool, do Ministério da Saúde, documento apresentado esta terça-feira no Parlamento e referente a 2018.
A regressão existe em vários indicadores, nomeadamente no capítulo das drogas, mas é no álcool que os 'passos atrás' são mais evidentes.
Há registo, por exemplo, de um "acréscimo entre 2015 e 2018 do consumo recente e atual de bebidas alcoólicas e do consumo binge [em excesso] e da embriaguez nos jovens de 18 anos.
Mais internamentos
Em consequência, a rede pública teve em tratamento, em 2018, 13.422 pessoas por problemas relacionados com o uso de álcool com uma subida de 5% naqueles que iniciaram estes tratamentos e de 15% nos readmitidos.
Portugal registou ainda 4.733 internamentos hospitalares com diagnóstico principal atribuível ao consumo de álcool, 63% devido a doença alcoólica do fígado e 28% por síndrome de dependência alcoólica.
Depois de sete anos em queda, o número de internamentos hospitalares teve aliás um aumento de 7% em 2018.
Os problemas com álcool detetados como "diagnósticos secundários" também aumentaram ultrapassando os 32 mil no último ano.
O número de internamentos relacionados com álcool tiveram em 2018 "os valores mais elevados dos últimos sete anos".
Mais mortes e mais crianças afetadas
Na contagem de mortos, o relatório refere 1.087 óbitos em 2018 com a presença de álcool, com 37% a morrerem em acidentes, 37% por morte natural, 13% por suicídio e 5% em intoxicação alcoólica.
O último ano teve 59 mortes por intoxicação alcoólica, num aumento de 34% em relação a 2017.
Com 172 vítimas mortais, 2018 registou também o número de óbitos em acidentes de viação sob influência do álcool.
O relatório destaca o aumento da mortalidade por causa do álcool, sendo os valores de 2018 os mais elevados dos últimos cinco anos ao nível das intoxicações alcoólicas e dos acidentes de viação sob a influência do álcool.
2018 teve ainda mais 27% de sinalizações às comissões de protecção, num total de 385, em processos onde crianças e jovens estão em risco devido ao consumo de álcool pelos próprios ou por outros, afectando o seu bem-estar e desenvolvimento.
O fim da crise?
O relatório explora pouco ou quase nada as causas para as tendências anteriores, mas destaca, em paralelo, o "aumento das quantidades disponíveis de bebidas alcoólicas para consumo no mercado nacional", sobretudo nos últimostrês anos após a descida verificada no período de crise económica.
Segundo a Autoridade Tributária, em 2018 venderam-se em Portugal Continental 515,5 milhões de litros de cerveja, 27,3 milhões de litros de outras bebidas fermentadas, 16,9 milhões de litros de produtos intermédios e 8 milhões de litros de bebidas espirituosas. O Instituto da Vinha e do Vinho contou ainda a venda de 264,4 milhões de litros de vinhos tranquilos.
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