No monte da Palmeira, em Alcoutim, a escola primária já não tem crianças. Serve apenas para fazer os velórios.
Corpo do artigo
Quando se chega vê-se um monte com várias casas caiadas a branco. Olhando melhor percebe-se que a maioria delas está fechada e não tem gente.
Partiram para outras bandas. "Todas as casas tinham cinco, seis filhos", lembra Manuel Martins, 84 anos. "Toda a gente trabalhava no campo, agora foram para outras terras, sei lá", lamenta.
Manuel Martins vive sozinho no monte da Palmeira, concelho de Alcoutim. Tem um cão por companhia.
Mais à frente no mesmo no monte, mora António Francisco, 77 anos. É raro os dois encontrarem-se. "Nunca pensei encontrar-me aqui tão sozinho. Tenho dias que não vejo praticamente ninguém".
Ali o silêncio pesa. António já sente receio de viver tão isolado. "Vá lá que tenho aí o canito e quando ouço ladrar assomo à janela".
Os dias passam devagar. Só há animação no monte da Palmeira quando chegam os vendedores." À segunda e sexta chega o padeiro e de quinze em quinze dias vem outro vender chouriços e presunto",explica Manuel.
A escola primária, encerrada há muito tempo, serve agora para fazer velórios.
Com magras reformas, a meia dúzia de habitantes do sítio da Palmeira entretém-se a cultivar alfaces, tomates ou pimentos nas pequenas hortas.
Uma vida simples, muito só, isolada demais num concelho onde já não há risos de crianças e onde o envelhecimento se tornou uma realidade incontornável.