
Manuel Alegre durante o lançamento do livro "Nada Está Escrito"
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O histórico socialista Manuel Alegre afirmou que escrever poesia hoje, quando «predomina o império do dinheiro» e a «cultura da 'troika'», é um «ato de resistência», defendendo que o maior défice do país «talvez» seja o «sonho, o da poesia».
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Manuel Alegre falava em Lisboa, à margem da apresentação do seu livro de poemas mais recente, "Nada está escrito".
«A poesia, a escrita e a vida são inseparáveis, mas isto não é um livro politico, é um livro de poesia. Só que eu penso que escrever poesia, neste momento, em que predomina o império do dinheiro, a cultura do número, da cifra, da 'troika', etc., isso é em si mesmo um ato de resistência, mesmo que a poesia esteja a falar de amor, esteja a falar sobre o sentido ou não sentido nenhum das coisas, sobre as transcendências», afirmou.
«A poesia em si mesmo é um ato de resistência, sobretudo neste momento, em que a linguagem está ocupada por essas coisas todas», acrescentou o também escritor e ex-candidato presidencial.
Manuel Alegre considerou que «a linguagem é essencial» e «quando a linguagem é ocupada, todo o ser é ocupado».
«Não é só pela 'troika', é aquilo a que eu chamo a mão invisível, a ditadura dos mercados. Neste momento, estamos bastante ocupados e por isso penso que a linguagem tem também esse papel de libertação», acrescentou, dizendo a seguir que «há muitos défices, mas talvez o mais importante neste momento seja o do sonho, o da poesia».
Questionado sobre declarações recentes ao Expresso, em que afirmou que ainda bem que não é Presidente da República neste momento, Manuel Alegre respondeu: «Isso foi uma ironia, foi uma provocação da minha parte. De facto, penso que hoje se deve ler pouco Eça de Queirós nas escolas, a ironia é uma arma, uma arma de crítica, uma arma política. Isso foi uma ironia da minha parte, porque de facto, realmente, me custa ver três senhores virem de pasta na mão aqui dizer o que um velho povo como o nosso deve fazer ou na deve fazer, mas enfim, são as circunstâncias».
Manuel Alegre disse ainda que, se fosse Presidente, «lidaria com ela [a situação do país] de outra maneira, com certeza, mas saberia lidar com ela».