"Algo falhou." Fuga dos cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus detetada 40 minutos após evasão
Rui Abrunhosa, diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, sublinha que, neste momento, "está em curso uma investigação através do serviço de auditoria e de segurança para saber o que possa ter falhado". Já o Sistema de Segurança Interna considera que o fecho de fronteiras "não é adequado"
Corpo do artigo
A fuga dos cinco evadidos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus foi registada pelos sistemas de videovigilância pelas 09h56, mas só foi detetada 40 minutos depois, quando os reclusos regressavam às suas celas.
De acordo com o diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), Rui Abrunhosa, ficou registada "no sistema de videovigilância a fuga dos cinco indivíduos pelas 09h56".
Segundo Rui Abrunhosa, a informação só foi comunicada aos órgãos superiores "cerca de 40 minutos depois, pois só nessa altura, aquando do regresso às celas individuais, se deu conta que faltavam cinco indivíduos com recurso ao sistema de videovigilância".
"A partir desse momento foram desencadeadas todas as ações. Neste momento está em curso uma investigação através do serviço de auditoria e de segurança para saber o que possa ter falhado", disse.
"Algo falhou, porque senão as pessoas não tinham fugido", reiterou.
Questionado sobre o que terá falhado na parte da observação das câmaras de videovigilância [cerca de 200], o responsável dos serviços prisionais disse que essa é uma das vertentes que terá de ser apurada na investigação interna que está em curso.
"Com certeza que devia haver [guardas a olhar para as imagens de videovigilância,]. Se não houver ninguém isso é uma falha muito grave na segurança", disse, admitindo que a quadrícula [das imagens das 200 câmaras] é grande e que é necessário apurar o que falhou.
Diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais recusa demitir-se
Questionado sobre se sente que tem condições para se manter no cargo, Rui Abrunhosa afirmou que não faz parte da sua maneira de ser desistir perante contrariedades e que, apesar de nestas situações ser "fácil tirar a toalha ao chão e ir embora", o seu entendimento é de que se deve ficar "até ao fim, até as coisas serem esclarecidas".
Porém, afirmou, se notar que a confiança em si depositada não existe mais, não ficará à espera que lhe digam para sair.
Fecho de fronteiras "não é adequado"
Os responsáveis da GNR e da PSP presentes na conferência de imprensa detalharam também as medidas tomadas e acionadas por cada uma das forças de segurança na sequência da fuga dos cinco detidos, considerados muito perigosos.
No caso da GNR, foi referido, todo o dispositivo foi informado e está em alerta, com o comandante do Comando Territorial da GNR de Lisboa, tenente Coronel João Fonseca a sublinhar que a "palavra-chave" é colaboração e cooperação.
Também o superintendente da PSP presente na conferência de impressa afirmou que as forças estão todas juntas neste desafio comum que é recapturar os evadidos, reiterando a perigosidade dos indivíduos em causa e a necessidade de cuidado na sua abordagem.
Durante a conferência de imprensa, o secretário-geral adjunto do SSI, Miguel Vieira, foi questionado sobre se foi equacionado o restabelecimento do controlo de fronteiras na sequência da fuga dos cinco presos, tendo esclarecido que não.
"Para uma situação confinada como esta, [essa solução] não é adequada nem proporcionada", disse, salientando que tanto a GNR como a PSP já estabeleceram as medidas consideradas adequadas para se fazer esse controlo.
O SSI disse no sábado que foi "agilizada a cooperação policial internacional" para a captura dos evadidos.
Questionado pela Lusa, o ministério da administração interna (MAI) de Espanha respondeu que "as forças de segurança do Estado espanhol dispõem de respostas operativas adequadas para fazer face a este tipo de situações".
Vale dos Judeus tinha 33 guardas prisionais no sábado
O diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais reconheceu que há um problema de falta de guardas prisionais, que é geral, ressalvando, contudo, que no sábado estavam 33 guardas em Vale dos Judeus, ligeiramente acima do recomendado.
"Não é por aí, embora eu reconheça que o problema da falta de guardas prisionais é um problema de todos os sistemas. Isso está muito claro", afirmou o diretor-geral, acrescentando que não é por causa desta fuga que são necessários mais guardas, mas por ser evidente que faltam guardas.
No sábado, o efetivo em Vale dos Judeus era de 33 guardas prisionais, número que está ligeiramente acima do recomendado.
"A cadeia contava à altura com 33 elementos da guarda prisional", o que "é à partida o número normal que um estabelecimento destas características e com este número de reclusos justifica ter".
Vale dos Judeus, referiu, tem um efetivo de 150 guardas prisionais, dos quais cerca de 15 encontram-se ausentes de baixa por doença, e outros tantos de férias.
Um dos presos foi transferido de Monsanto para Vale dos Judeus contra opinião técnica
O diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais disse ainda que um dos cinco evadidos de Vale de Judeus foi transferido da cadeia de alta segurança de Monsanto contra opinião técnica dos serviços.
"Estamos a falar de indivíduos extremamente perigosos, que tentaram fugas anteriormente", disse o diretor-geral, notando que entre os cinco evadidos há um que foi transferido da cadeia de Monsanto para Vale de Judeus.
"Estamos a falar, em particular, de um indivíduo que estava na cadeia de alta segurança de Monsanto e que, por ordem do Tribunal de Execução de Penas, foi dito que não devia continuar na cadeia de Monsanto, contra a nossa opinião técnica. Não vou estar a dizer que isso ajudou à fuga, mas naturalmente que se estivesse em Monsanto não teria fugido", referiu.
Cinco reclusos fugiram no sábado do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, distrito de Lisboa.
Segundo avançou no sábado a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), uma avaliação preliminar, com recurso a imagens de videovigilância, aponta para uma fuga dos cinco homens pelas 10h00 "com ajuda externa através do lançamento de uma escada, que permitiu aos reclusos escalarem o muro e acederem ao exterior".
