Alta comissária para as migrações admite crescimento do discurso xenófobo em Portugal
À TSF, Sónia Pereira faz um balanço de três no Alto Comissariado para as Migrações, num momento em que o discurso xenófobo e racista tem aumentado no plano público e político.
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A alta comissária para as migrações admite o crescimento do discurso de xenofobia em Portugal. Em entrevista à TSF, Sónia Pereira explica que, no entanto, não se pode associar esse comportamento ao surgimento de situações de violência, como por exemplo, a que ocorreu no mês passado e envolveu um imigrante nepalês.
"É prematuro dizer que o facto de esse discurso público e político ter hoje mais expressão possa estar associado ao surgimento de situações de violência. No entanto, temos de efetivamente estar vigilantes, acompanhar e monitorizar, porque em nenhuma circunstância isto pode ser negligenciado pelos serviços e pelo Alto Comissariado para as Migrações, em particular. Portanto, estamos atentos, acompanhamos", afirma Sónia Pereira.
No plano político, a alta comissária para as migrações refere que o Chega, liderado por André Ventura, "é o exemplo mais emblemático" do discurso racista e xenófobo. "Vamos vendo aqui e ali comentários que podem denotar essa ideologia associada a maior grau de xenofobia, comentários que são discriminatórios face a pessoas de determinadas origens e isso não se enquadra no quadro de valores do regime democrático português", sublinha.
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A completar três anos no cargo, Sónia Pereira elege o acompanhamento dos imigrantes durante a pandemia como o momento mais marcante, ao mesmo tempo que o Alto Comissariado cumpria os compromissos internacionais.
Em 2020, no início da pandemia, Portugal recebeu cerca de 350 menores resgatados em pequenas embarcações. A alta comissária explica que alguns saíram do país, mas a maioria mantém-se em Portugal. "Há um movimento deste acolhimento e de saída para outros países. Mas a maioria continua em Portugal. Entraram no sistema de promoção e proteção português", assinala Sónia Pereira.
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"Os que efetivamente à chegada a Portugal, que foram a maioria, ainda menores, entram no sistema de promoção e proteção nacional, que é da responsabilidade do Instituto da Segurança Social e são acompanhados por um conjunto de instituições e passam pelas respostas que foram desenhadas para a sua situação específica", acrescenta.
A maioria destas crianças e adolescentes foram encaminhados pelas autoridades competentes "para casas de acolhimento coletivas para um trabalho que é mais coletivo". Já os restantes, a chegar à maioridade, "já têm condições para respostas de autonomia ou seja, "passam também a estar em resposta já de maior autonomia em apartamentos próprios.
Sobre a decisão do Goveno conceder um visto de residência por um ano, a cerca de 150 mil imigrantes, a maioria brasileiros, Sónia Pereira diz que é preciso "agilizar os processos burocráticos" que permitam a quem entra no país encontrar um emprego e ficar em Portugal.