"Altamente perigoso." UTAD procura soluções para "fungo da podridão" da castanha
Novos produtos e protocolos com o setor privado são algumas das iniciativas que tentam ajudar a combater um fungo que causou perdas de 40% na produção nacional, em 2023
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A Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD) tem dedicado os últimos anos à investigação do chamado "fungo da podridão", que está a afetar a produção de castanha em Portugal. O problema não é de agora e o combate ao mesmo também não. É o que garante José Gomes-Laranjo, professor da UTAD e especialista na área da castanha.
À TSF, o investigador avisa que está em causa um fungo "altamente perigoso", sobretudo por ser difícil de detetar. "Permanece no fruto sem se notar e só quando a castanha abandona o ouriço é que a temperatura o ativa", elabora.
Numa área em que os produtores não têm capacidade para pagar investigações por si mesmos, como explica o engenheiro Abel Ferreira, presidente de uma associação ambiental, a UTAD tem sido uma das responsáveis pelo trabalho neste sentido. Entre as iniciativas em curso, José Gomes-Laranjo destaca o mais recente protocolo, celebrado com a produtora de castanhas Agromontenegro. "Fez-se um acordo a dois no sentido de ajudar os produtores a tratar dos castanheiros, para os ajudar e sensibilizar, de modo a que a campanha de 2024 seja melhor que a de 2023", afirma. Lembra também outro protocolo, desta feita com o Instituto Politécnico de Bragança, com quem têm trabalhado em conjunto na tentativa de encontrar soluções para o fungo.
A nível de colaborações, o investigador da UTAD diz ainda que está a ser feito um trabalho conjunto a nível europeu desde 2021. Queixa-se, porém, da falta de financiamento, "quer nacional, quer internacional", reiterando, por isso, a importância do setor privado na ajuda à investigação. José Gomes-Laranjo fala igualmente num novo produto que tem mostrado resultados promissores. "É um produto de base nutritiva que desencadeia reações nas plantas que levam ao controlo das doenças", garante.
José Gomes-Laranjo afirma que os resultados apresentam uma eficácia significativa, "entre 70% e 80%", mas reconhece que há ainda muito trabalho pela frente para controlar o fungo da podridão da castanha.
Os produtores estão preocupados com mais um eventual ataque do chamado "fungo da podridão". Na terça-feira, o presidente da Associação Arbórea, Abel Pereira, disse à TSF que uma nova perda na produção de castanha seria dramática para o setor.
Em causa estão os resultados de 2023, ano em que a produção de castanha culminou em perdas significativas. Vinhais foi o município mais afetado, com apenas 30% da produção a ser aproveitada, um resultado que se traduziu em prejuízos na ordem dos 25 milhões de euros. O responsável: um fungo, o "fungo da podridão", como lhe chamou Abel Pereira, presidente da Associação Agroflorestal e Ambiental da Terra Fria Transmontana, também conhecida por Arbórea.
À TSF, o responsável pela associação explicou que se trata de um fungo que torna o fruto impróprio para consumo e cresce com ele desde início, fazendo com que a castanha não chegue em condições aos consumidores. Olhando para as previsões para 2024, o presidente admite que não está otimista. "Tivemos os meses de junho e julho com humidades relativas muito acentuadas e temperaturas a rondar os 25 ºC, o que cria condições para o desenvolvimento do fungo", referiu. Ainda assim, reiterou que, com base nestes dados, um cenário idêntico ao do ano passado é apenas uma suposição.
A produção de castanha tem particular peso nos concelhos de Vinhais e Bragança, onde há cerca de cinco mil produtores. É de lá que saem, todos os anos, mais de 25 mil toneladas deste fruto, cujas receitas rondam os 25 milhões de euros anuais para a região.
