Alunos ainda sem professor no final do 2.º período: “Aparecem candidatos sem a formação mínima“
Muitos são estudantes que se encontram em anos decisivos para obterem nota de entrada no ensino superior
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O fim do 2.º período letivo está a terminar e ainda há muitos alunos sem professor a pelo menos uma disciplina. O ministro da Educação, Fernando Alexandre, anunciou no Parlamento que no mês março revelaria o resultado de uma auditoria criada para saber exatamente quantos estudantes estavam ainda sem aulas, mas até agora não o fez.
O presidente da Associação Nacional dos Dirigentes Escolares (ANDE) garante que a situação está a agudizar-se. "É muito difícil para grande parte das escolas, senão todas, substituir professores que, por um motivo ou por outro, entram de baixa médica", garante Manuel Pereira.
O professor, diretor num agrupamento de Cinfães, adianta que este ano, aconteceu-lhe uma situação pela primeira vez: durante todo o mês de março teve dois horários a concurso e não encontrou candidatos. A alternativa é fazer ofertas de escola, mas "aparecem candidatos sem a formação mínima para estar à frente de uma turma", assegura.
"A situação está a agudizar-se", lamenta. "A falta de professores é um problema que o Ministério da Educação e os próximos governos têm de encarar de frente", avisa.
Manuel Pereira explica que a falta de professores já é transversal a todas as disciplinas e considera que os concursos não vão trazer novos docentes. "Os concursos de que ouvimos falar, que vão colocar 11 mil professores, não resolvem os problemas." O presidente da ANDE explica que esses concursos são para colocar com vínculo definitivo professores que já estão a trabalhar nesta altura nas escolas.
Manuel Pereira acrescenta que a auditoria anunciada pelo ministro também não vai resolver o problema maior: a falta de professores.
Pais indignados lamentam estado em que se encontra a escola pública
Os pais mostram indignação com a falta de professores e o testemunho dessa indignação parte de José Eduardo Martins, pai de uma filha que se encontra no 11.º ano. O ex-deputado do PSD e antigo secretário de estado do ambiente escreveu na sua página de Facebook que a sua educanda, estudante que frequenta o 11.º ano não teve professor de português no 1.º período, a professora de Geometria “era tão capaz que teve de ser dispensada em fevereiro”, e agora não tem a disciplina de Matemática.
Á TSF, José Eduardo Martins fala numa grande frustração, porque já sucedeu a mesma situação com a filha mais velha, uns anos antes. “Estamos aqui em sobressalto, a pagar explicações que saem mais caras do que um colégio privado e que naturalmente não estão ao alcance de todos, o que suscita alguma indignação”, afirma.
“Há uma mudança de horários constante, um desassossego constante, o pensar se anulamos a disciplina e se vamos diretamente a exame”, conta. O advogado sublinha que a situação leva a uma ausência de aprendizagens e aumenta a incerteza e causa pressão sobre os jovens. Perante toda esta situação, José Eduardo Martins afirma estar já a pensar colocar o seu filho mais novo num colégio privado. “Olhe que para uma pessoa como eu, que é filho da escola pública (…), dizer isto custa muito”, garante.
O antigo deputado social democrata lamenta que se fale muito sobre os problemas da saúde, e não se olhe com mais atenção para a situação em que se encontra a escola pública desde há vários anos, onde houve desinvestimento nos recursos humanos e pouca estabilidade nos cargos dirigentes.
“Toda a gente associa o início desde período com a doutora Maria de Lurdes Rodrigues [ex-ministra da Educação], e com uma maior exigência na avaliação, que não tenho a certeza de ser inútil para o resultado de ter melhores professores”, afirma. “É difícil associar um ministro porque isto é um contínuo de coisas que não se souberam, ou não se conseguiram, ou puderam travar”, vinca.