Alunos em Leiria descobrem "um novo mundo" a brincar ao piano
O projecto "O som do teu nome" vai fazer circular um piano acústico por cinco escolas de Leiria, até 2024. A "tournée" começou na Escola Secundária Afonso Lopes Vieira, onde muitos alunos "fazem fila" para tocar um piano, pela primeira vez.
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Com o braço esquerdo magoado e preso ao peito, Alexandre toca apenas com a mão direita. Com 12 anos, teve o primeiro contacto com o piano há cerca de dois meses, quando o instrumento chegou à Escola secundária Afonso Lopes Vieira, em Leiria. O piano acústico foi colocado na sala polivalente, junto ao refeitório, e tem sido a principal atracção nos intervalos das aulas. "Desde que está aqui, os alunos vêm mais" ao polivalente, "até fazem fila", descreve a directora da escola, Celeste Frazão.
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O projecto "O som do teu nome - o piano vai à escola" é uma iniciativa de Leiria cidade criativa da música, que vai fazer circular o piano acústico por cinco escolas do concelho, até 2024, chegando a quase 5 mil alunos dos 10 aos 17 anos. Os estudantes são desafiados a tocar o seu nome, a partir de letras colocadas aleatoriamente no centro do teclado. "É um pequeno jogo que serve para estimular o contacto com o instrumento musical de forma extremamente informal", explica Daniel Bernardes, pianista, compositor e director artístico de Leiria cidade criativa da música. "É como um quadro e giz ou lápis de cor, o que interessa é interagir e brincar com o piano", sem a preocupação de tocar bem ou mal, "desprovida de qualquer preconceito possível". Os alunos são convidados a gravar o som do seu nome, partilhando as gravações com a cidade criativa da música. Daniel Bernardes adianta que, numa segunda fase, "temos a ambição de pegar nestes pequenos excertos musicais de poucos segundos e entregá-los a compositores que construam obras para os músicos de Leiria". A cidade, que tem 24 grupos corais e bandas filarmónicas, integra a rede da UNESCO das cidades criativas da música, desde 2019.
Enquanto Alexandre explora as primeiras notas, Rafael Carvalho, 13 anos, senta-se ao piano, assim que termina o teste de Português. Aproveita todas as pausas para treinar a música "Bohemian Rhapsody", dos Queen, que vai tocar na festa do final do ano lectivo. Rafael começou a tocar num teclado em casa, quando tinha 10 anos. "Comprei na FNAC e tenho até hoje, mas está meio velhinho", conta com sotaque do Brasil. Já pediu um piano digital à mãe, mas "aqui é diferente. O piano é muito maior do que o teclado, mas já peguei a manha", sorri sempre com os dedos pousados nas teclas.
Da mesma turma do 7º ano, Miguel Dias recebeu um piano digital, no último Natal, e também nota a diferença. "O som acaba por ser um bocado melhor e aprecia-se mais. O número de teclas é o mesmo, mas o peso a tocar é diferente", é preciso fazer mais força. Aluna do 11º ano, Rita Sebastião, que estuda piano, vê colegas "a martelar nas teclas", mas destaca a "oportunidade de proporcionar o piano a alunos que (de outra forma) não poderiam ter" esse contacto.
Uma entusiasta do projecto, a professora de Filosofia, Fernanda Diogo, recorda que o piano "não está acessível como a viola ou a flauta. Para alguns alunos, é a primeira vez que tocam. Se calhar, é a primeira vez que vêem um piano ao vivo". Além disso, "ninguém os obriga", portanto, "tem sido um sucesso", acrescenta a directora Celeste Frazão, enquanto escuta embevecida, o trio composto por Rita Sebastião, ao piano; Mara Luna, no violino; e Bernardo Jesus, na viola. Colegas de turma, começaram a trabalhar juntos no projecto "Matemática na escola". A partir daí, descobriram que partilham o amor pela música e têm tocado em grupo. "Fiquei muito feliz quando a 'stora' disse que a escola ia ter um piano", lembra Bernardo. "Às vezes, nem conseguimos estar aqui (no polivalente) porque estão sempre a fazer barulho, mas é engraçado, porque exploram e conhecem um novo mundo, o mundo da música, uma maneira nova de se expressarem. É uma abertura de portas para um novo mundo".
Mara Luna, que tal como Bernardo, sonha ser médica, não conseguiria viver sem música. Começou a estudar violino na Guarda e prosseguiu as aulas, mesmo após a mudança para Leiria. "A música é uma forma de nos abstrairmos do mundo e também um lugar onde podemos encontrar colo, onde nos podemos desafiar, procurar novas formas de dar o nosso melhor e tentarmos atingir o nosso máximo", conclui a jovem de 18 anos.
A autora não segue as regras do novo acordo ortográfico
