Álvaro Almeida rejeita relacionar encerramento de urgências na Margem Sul com morte de dois bebés
Ouvido no Parlamento, o diretor executivo do SNS garante que num dos casos houve complicações durante o parto e, no outro, a grávida foi acompanhada ao longo do percurso até ao Hospital de Cascais
Corpo do artigo
O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) rejeita que o encerramento de urgências na Margem Sul tenha contribuído para a morte de dois bebés.
Ouvido no Parlamento a pedido do Chega, Álvaro Almeida garantiu que num dos casos houve complicações durante o parto e, no outro, a grávida foi acompanhada ao longo do percurso até ao Hospital de Cascais.
É altamente improvável que fossem os dez minutos de transporte adicional, acompanhado por médico, a causa deste desfecho. Segundo ponto, num outro caso que cita, não há qualquer dificuldade de acesso. Houve também um desfecho fatídico que decorreu de um parto que teve complicações. Mas o parto decorreu normalmente. Não foi um parto de emergência. No segundo caso, não há certamente nenhuma relação entre encerramento de urgências e o desfecho fatídico. No primeiro caso, não sabemos se aqueles dez minutos fizeram diferença ou não. É altamente improvável, mas não sabemos.
No mês de junho, uma grávida de 40 semanas, residente no Seixal, perdeu o bebé durante o parto, depois de ter recorrido a cinco hospitais diferentes em menos de duas semanas, por ter dores intensas. Já em julho, uma grávida de 31 semanas, residente no Barreiro, sofreu uma hemorragia interna, acabando por ser transportada para o Hospital de Cascais, que se localiza a mais de uma hora de distância, uma vez que os serviços de urgência desta especialidade estavam encerrados na sua zona. Durante a viagem, a mulher terá sofrido um descolamento da placenta e o bebé acabado por morrer.
No arranque da audição, o Chega, representado pelo deputado Rui Cristina, denunciou o "colapso sistémico" do SNS, fruto dos "anos de desinvestimento" no setor, e mostrou-se "preocupado" com os sucessivos constrangimentos nas urgências obstétricas. Nos dois casos referidos, Rui Cristina sublinhou igualmente a ineficácia da Linha SNS24, que acusa de ter falhado "redondamente".
Álvaro Almeida considerou, contudo, que existem várias "incorreções factuais" no texto apresentado ao Parlamento e assegurou que não existe qualquer relação entre o encerramento das urgências e as mortes destes dois bebés. Destacou ainda que este ano foi registada uma descida no número de urgências encerradas e apontou que, "quase sempre, 90% estão a funcionar".
E, embora afirme que está a ser avaliada a criação de um centro materno infantil na Margem Sul, o diretor executivo do SNS admite que o Barreiro não é uma "preocupação", ao contrário da região centro "onde as alternativas são muito mais distantes".
"Todos gostaríamos de ter uma urgência hospitalar à porta de casa, mas não é possível. Enquanto diretor executivo, estou muito mais preocupado com o facto de as pessoas de Mogadouro, de Odemira, de Montalegre estarem a 90 km, 1,5 hora, da urgência obstétrica mais próxima, do que saber se a urgência do Barreiro está fechada e tem de ir para Almada", confessa.
Indo mais longe, Álvaro Almeida reforça que estar a 1,5 horas de uma urgência obstétrica é "um problema sério e real", enquanto que estar a 30, em vez de 40 minutos, não "parece um problema sério".
O diretor executivo do SNS lembrou igualmente que o Governo já avançou com um grupo de trabalho que vai ter cerca de um mês para rever a rede de urgências, incluindo a criação de urgências regionais. Sublinha, contudo, que "não há omeletes sem ovos".
Se temos metade dos obstetras que seriam necessários para assegurar as urgências, ou temos mais obstetras, ou temos menos urgências. Não há outra alternativa, pelo menos, enquanto os padrões da ordem dos médicos forem estes.
Mas, mais do que um de urgências, Álvaro Almeida fala, nesta audição na comissão parlamentar de saúde, na urgência de melhorar a resposta do transporte de emergência para grávidas, para evitar que os bebés nasçam nas ruas ou em ambulâncias.
"Quando é na ambulância também não preocupa muito porque têm apoio. Preocupa-me mais os casos no meio da rua, essas sim são situações preocupantes e, portanto, nós temos de assegurar que a resposta de emergência é uma resposta eficaz para depois transportar, neste caso as senhoras grávidas, para o hospital mais próximo que esteja disponível", argumenta.