Candidata considera "elucidativo" que Sócrates venha defender Marcelo Rebelo de Sousa e fala em "alguém que organizou o desvio de recursos do Estado". Ana Gomes tem ainda desafios para Marcelo que volta a acusar de ter "minado" as negociações com privados da saúde. E tudo de batom vermelho nos lábios.
Corpo do artigo
Se há coisa a que Ana Gomes já nos habituou nesta campanha eleitoral é o facto de não deixar nada por responder, nem quando diz que não quer seguir no tema. O caso de Sócrates, nomeadamente a resposta ao artigo de opinião que publicou, é exemplo disso, mas não só.
Num dia que começou no topo de um hotel da Figueira da Foz, com vista para o extenso areal, Ana Gomes inteirou-se do problema da erosão costeira e das soluções que podiam ser postas em prática para ajudar a resolver os problemas, combatendo ao mesmo tempo as alterações climáticas e "devolvendo a cidade ao mar".
Mas foi já em Coimbra que a candidata a Belém disparou para todos os lados. Começando por José Sócrates, Ana Gomes com um sorriso tapado pela máscara, mas que foi audível, considera "muito elucidativo que José Sócrates venha defender o professor Marcelo Rebelo de Sousa e atacar-me a mim".
E é elucidativo porque, diz Ana Gomes, há quem queira que não se fale "do BES, da teia de corrupção, de fuga a fisco, de captura do Estado, dos bloqueamentos da justiça relativamente aos megaprocessos do BES e da Operação Marquês". Dizendo que não quer falar mais sobre o assunto, dá um passo adiante: "Não vou falar de quem nos organizou o desvio de recursos do Estado, quero falar de fortalecer o Estado onde este precisa de ser forte". Assunto Sócrates arrumado, tempo para Marcelo Rebelo de Sousa.
TSF\audio\2021\01\noticias\16\filipe_santa_barbara_ana_gomes_em_coimbra_mp3
Dizendo-se preocupada com situações como a de filas de ambulâncias à porta de hospitais e sem capacidade de resposta, a candidata considera que está na altura da requisição civil, "uma questão essencial que foi impedida por Marcelo Rebelo de Sousa ao dar palco e força aos privados contra a decisão e intenções da ministra da Saúde". Marcelo "minou" a negociação, diz mesmo.
Insiste ainda Ana Gomes que "isto tem de ser dito e os portugueses têm de saber isto". O quê? Que "foi Marcelo Rebelo de Sousa que, ao impor no próprio decreto presidencial que o Estado devesse procurar antes acordos com os privados em vez de imediatamente avançar para a requisição civil a custo justo, também determinou que, até hoje, a capacidade instalada não esteja a ser totalmente aproveitada e os recursos humanos também não estejam a ser totalmente mobilizados".
Se já tinha disparado para Marcelo na saúde, às tantas, dispara a propósito do "movimento do batom vermelho". E aqui com um desafio específico: "pronunciar exatamente sobre este tipo de ataques machistas, absolutamente indignos e incompatíveis com uma república inclusiva e que se quer projetar no futuro".
E a esquerda?
Não é notícia, desde o debate com Marisa Matias, que Ana Gomes é apologista de uma convergência à esquerda. Ainda ontem tweetou numa resposta ao apoiante Rui Tavares que "nunca será" por ela que "a esquerda não converge antes das eleições". E hoje, não apelando à desistência de ninguém, deixou um recado: "quando a esquerda se desuniu abriu o caminho às forças mais prejudiciais ao reforço da democracia".
Realçando que trabalha e "sempre trabalhará" pela convergência não só da esquerda, "mas de todo o campo democrático", Ana Gomes sublinha que "importa ter memória" porque "a democracia não pode ser tolerante com os intolerantes".
Questionada sobre um eventual segundo lugar da extrema-direita nas eleições, Ana Gomes mostra a confiança nos cidadãos portugueses. "Eles sabem bem o que custou lutar pela liberdade e democracia, confio que no dia 24 saberão bem, através do seu voto, mostrar que as forças que nos querem fazer voltar à ditadura não passarão e aqueles que fazem o jogo dessas forças normalizando essas forças também não terão apoio do povo português". Mais um recado entregue ao cuidado de quem "normaliza" o candidato André Ventura.
De batom vermelho com apoio socialista local
Para terminar o dia de campanha fora de portas, Ana Gomes foi recebida na Associação Académica de Coimbra pela direção, nomeadamente pelo presidente João Assunção. A candidata que a falar ao ar livre, tirou a máscara com as devidas distâncias e, antes de começar, puxou do batom vermelho.
"Vou aproveitar e por um batom vermelho, nos dias que correm, não acham meninas?", perguntou Ana Gomes fazendo o gesto que por estes dias está carregado de simbolismo, lembrando até que tem uma experiência de 50 anos com os batons vermelhos.
Mas adiante, Ana Gomes foi confrontada com uma questão muito cara à esquerda: o fim das propinas. O tema foi introduzido por João Assunção e a candidata não teve dúvidas em acompanhar dizendo que é uma questão de "dar cumprimento ao que está previsto na Constituição".
E de onde viria esse dinheiro? Por exemplo, o que foge do controlo e vai parar offshore. "Há formas de apoiar o ensino público que se podiam resolver se o Estado se mobilizasse para ir buscar recursos, por exemplo, aos offshore", levantando uma das suas bandeiras e lembrando que são milhões por ano que escapam para fora do país.
Tendo ouvido da Associação Académica de Coimbra o pedido para que fossem respeitados os princípios, direitos, liberdades e garantias da atual Constituição, Ana Gomes ficou contente com esta preocupação dos estudantes e aproveitou para mais uma farpa ao atual habitante do Palácio de Belém: "Quem elegemos Presidente da República não é só para andar aos beijinhos e abraços, nem para falar de umas coisas e não falar de outras, mas para usar os poderes que a Constituição confere".
Mais um disparo da candidata que de Coimbra leva também o apoio do presidente da concelhia socialista, Carlos Cidade, que manifestou formalmente o apoio à candidatura. Para mais logo, ainda haverá uma conversa no ciberespaço e que vai contar com mais uma figura do Partido Socialista: o deputado Tiago Barbosa Ribeiro.