Candidata a Belém angariou uma mão cheia de votos no Mercado de Matosinhos, local onde assumiu que os "polvos" são para combater e onde recebeu sementes de cravos para plantar em Belém. Pelo caminho, o batom vermelho porque se mexe com uma, mexe com todas.
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Conceição Maria olhava animada para a porta do mercado onde já trabalha há décadas, desde que herdou a banca dos legumes dos sogros. A razão da animação é a visita de Ana Gomes que escolheu especificamente uma ação de campanha com quem está a trabalhar no primeiro dia do novo confinamento.
E a comerciante, entusiasmada com o aparato mediático, lá vai dizendo que em Belém não quer voltar a ver Marcelo: "Para falar francamente, no doutor Marcelo não! Foi uma desilusão!" Confessando-se indecisa, até tendo ponderado em Ventura ("há coisas em que tem razão, mas noutras não, ele é meio maluco"), dois dedos de conversa parecem chegar para se decidir, dois dedos de conversa na qual Ana Gomes aproveita para responder a provocações.
"Pode apontar problemas, mas o problema também é a solução. E quais são as soluções? Ainda agora, até em relação a mim, [diz] que não sou bem vinda...", nota Ana Gomes perante uma comerciante espantada e que a interrompe alto e bom som: "Mas não é bem-vinda porquê?".
Ana Gomes prossegue lembrando que "na Alemanha nazi houve pessoas, judeus, negros, ciganos" e que "a lei os excluiu da cidadania". "A solução de excluir pessoas não é solução, é uma receita para a violência, insegurança e guerra", conclui Ana Gomes para ouvir da boca de Conceição: "É como o Hitler". No fim, lá leva a certeza do apoio da Conceição dos legumes e frutas.
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Mas a candidata percorre o mercado e vai ouvindo palavras de apoio de várias comerciantes e até elogios ("é mais bonita do que na televisão"). Em frente a uma banca do peixe, Ana Gomes é questionada sobre que peixe seria e recebe uma sugestão que lhe agrada: a pescada.
"Antes de ser já o era" e "tanto vai à mesa dos ricos como dos pobres" são justificações que encontra para concordar. Mas nas metáforas do fundo do mar, a maior delas todas: o combate aos polvos.
"Há muitos polvos e não é nesta campanha apenas, é no país. Podiam ser como os polvos da nossa costa, úteis para a mesa dos portugueses, mas há outros que estrangulam o desenvolvimento do país: o polvo da corrupção, o da falta de funcionamento da justiça, o polvo em certos setores da economia e das finanças", vai detalhando Ana Gomes que conclui estar a tentar chegar a Belém para combater estes polvos.
Mas não é apenas de metáforas do fundo do mar que se faz campanha, também com flores. Catarina, uma jovem que diz ter ido de propósito ao mercado para ver Ana Gomes, dá-lhe pacote de sementes de cravos para "plantar mais no Palácio de Belém".
E Ana Gomes, naturalmente, aproveita para mais uma deixa política: "[Cravos] Vermelhos, mas também de todas as cores porque a diversidade é uma riqueza!". 2-0 para Ana Gomes contra André Ventura.
Mexe com uma, mexe com todas? "Absolutamente"
Ainda antes de chegar perto dos jornalistas, já nos telemóveis corria um vídeo do Twitter no qual a candidata pintava os lábios de vermelho. Já tinha sido desafiada por uma internauta nas redes sociais e já tinha prometido fazê-lo: associar-se ao mais recente movimento das redes chamado #VermelhoEmBelem.
Tudo começou com os ataques de André Ventura, num comício, a propósito do batom vermelho utilizado pela candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda e, pela internet fora, são várias as mulheres (e homens!) que têm vindo a publicar fotografias com os lábios pintados de vermelho.
Ana Gomes não é exceção e explica: "São intoleráveis os ataques que são feitos a outros candidatos na base de preconceitos machistas e outros e, portanto, não alinho com eles e estou com todas as mulheres e homens progressistas deste país que ousam afirmar que o vermelho em Belém faz a diferença". "Sim, candidato-me porque acredito que o vermelho em Belém faz a diferença", conclui.
"Estar junto dos portugueses"
No dia em que o confinamento entrou em vigor, Ana Gomes saiu à rua e a explicação é a de que tem a obrigação de "estar junto dos portugueses, tanto os que estão em casa a confinar, como dos que têm de trabalhar".
E foi por isso que foi parando no percurso entre a Câmara de Matosinhos e o mercado da cidade, acompanhada pela autarca Luísa Salgueiro, para falar com quem se cruzava. Tirando três idosos "que estavam a aproveitar o solinho", todos os outros tinham justificação para estar na via pública: ou porque estavam às compras ou porque estavam a trabalhar.
E se à saída do mercado até ouviu uma crítica de uma senhora que pedia "distanciamento", a verdade é que devido à quantidade de jornalistas presentes, esse distanciamento tornou-se complicado.
"Penso que respeitámos as regras, se me demonstrarem que não e que errei serei a primeira a corrigir. Todas as pessoas estavam protegidas com máscaras, não houve toque físico, a não ser de braços, e tentámos estar à distância", notou a candidata que conseguiu recolher o apoio de várias comerciantes de Matosinhos.
"Tem o meu apoio, menina, pequeninas mas estamos lá", despede-se uma peixeira garantindo o voto na candidata que ainda tem hoje a primeira iniciativa na qual participa um governante: o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos.