Navio Gil Eannes, construído nos estaleiros de Viana do Castelo, em 1955, foi resgatado da sucata e hoje é museu na sua cidade.
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Corria o mês de maio de 1997, quando o então presidente da câmara municipal de Viana do Castelo, Defensor Moura, teve um sobressalto. Soube que o navio-hospital da antiga frota bacalhoeira portuguesa, Gil Eannes, construído em 1955 nos estaleiros navais daquela cidade, estava à beira de ser desmantelado numa sucata.
A situação da embarcação que ficou conhecida por "Anjo branco", pela sua missão de apoio e salvamento aos pescadores da dura faina do bacalhau, tocou fundo o autarca.
"Estava em casa a ver uns documentos, com a televisão ligada, e ouvi falar o Gil Eannes, olhei e vi um barco enferrujado a atravessar o Tejo. Fiquei surpreendido. Foi um sobressalto, ver que o Gil Eannes ia para a sucata", conta Defensor Moura à TSF, abrindo um pouco da história que registou num livro que esta terça-feira será apresentado em Viana do Castelo, como forma de assinalar o 25.º aniversário do resgate.
A obra chama-se "Regresso a Casa".
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"Na altura toda a gente ficou sobressaltada: então o 'Anjo branco' vai para a sucata? Como é que pode ser? É um símbolo dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e do serviço de assistência médica prestado aos nossos pescadores. Temos de fazer alguma coisa", continua a desvendar, recordando como iniciou contactos para resgatar o navio-hospital.
Nesse ano, 1997, gerou-se uma onda solidária de salvamento, que envolveu desde sociedade civil a governantes.
"Houve muita mobilização de cidadãos, escolas, empresas, artistas com vários espetáculos, música, teatro, cinema, mas não chegava para os 50 mil contos (250 mil euros), que eram necessários", lembra, referindo, que por isso, recorreu ao antigo primeiro-ministro António Guterres.
"Disse-lhe, meio a sério, meio a brincar, que se tinha recuperado as gravuras de Foz Côa, também tinha de recuperar o Gil Eannes, que também tem valor histórico e é um símbolo para Viana do Castelo e para a pesca do bacalhau. E assim foi, o [António] Guterres deu instruções ao seu chefe de gabinete para fazer diligências para que as empresas públicas e alguns ministérios pudessem colaborar", descreve.
A ajuda chegou um pouco de todo o lado e o Gil Eannes regressou a casa.
"Depois do sobressalto, ver, no dia 31 de janeiro de 1998, as pessoas emocionadas a chorar, a receber a entrar na barra, foi, de facto, uma grande alegria", recorda Defensor Moura.
Transformado em museu na cidade que o viu nascer, a embarcação, já recebeu, desde então, cerca de 1 milhão e 200 mil visitantes.
Hoje, o antigo autarca que o resgatou, afirma: "Ninguém merecia mais merecia ter o 'Anjo branco' que Viana do Castelo."