
Lusa/André Kosters
O secretário-geral do PS salienta a representatividade dos comunistas na sociedade portuguesa e defende uma mudança não só de Governo, mas também de políticas. Do lado do PCP, Jerónimo de Sousa diz que ao PS se coloca «uma exigência de clarificação».
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Os dois lideres partidários falaram aos jornalistas depois da reunião que tiveram e que decorreu na sede dos comunistas.
Acompanhado pelo líder parlamentar, Ferro Rodrigues, e pelo dirigente socialista Porfírio Silva, o líder socialista disse que a reunião « decorreu de forma muito franca. Como sabemos há divergências entre os dois partidos, que são conhecidas, mas há também análises francas sobre o pensamento de cada força política relativamente às diferentes questões que se colocam ao país. Tratou-se de uma reunião de apresentação de cumprimentos e não sobre negociações», acentuou o secretário-geral do PS.
António Costa referiu que os portugueses conhecem bem o PS e o PCP «há muitas dezenas de anos e conhecem bem as diferenças» entre estas duas forças políticas.
António Costa salientou então a sua defesa de «um diálogo político construtivo» no país e sua recusa no sentido de «excluir o PCP do debate democrático».
"Nenhum partido pode ser excluído do debate democrático. Quem decide quem representa o povo português são os eleitores portugueses. Não são os partidos que têm o direito de se excluir uns aos outros", sustentou. O secretário-geral do PS referiu depois que socialistas e comunistas partem para 2015 com os seus próprios objetivos eleitorais.
Interrogado sobre divergências e convergências com o PCP registadas na reunião, António Costa recorreu ao humor: «Convergências porque eu e o secretário-geral do PCP somos ambos do Benfica; divergências porque na restante delegação do PS, tal como na do PCP, há elementos do Sporting».
Mais a sério, António Costa disse esperar que «todo o diálogo dê frutos, porque a democracia é por natureza o regime do compromisso - e compromisso não significa identidade».
O secretário-geral do PCP acentuou a disponibilidade dos comunistas para uma convergência entre as forças de esquerda, mas salientou que essa convergência deve proporcionar uma efetiva rutura «face às políticas de direita» e não se limitar «apenas a declarações de intenções» com «silêncios comprometedores» face a questões estruturantes como o Tratado Orçamental ou a renegociação da dívida.
«Hoje existe um grande consenso na sociedade portuguesa no sentido de derrotar esta política de desastre que está a afundar o país e que são necessárias ruturas face à componente estruturante da política de direita. Há divergência com o PS sobre a Europa e no que se refere à necessidade de uma outra política económica com outra repartição da riqueza. É incontornável a rejeição do Tratado Orçamental e da renegociação da dívida», disse.
Jerónimo de Sousa referiu que o PCP verifica que, apesar de «declaração de intenções» do PS no plano social, «não existe uma clarificação e uma vontade para romper com a política de direita» por parte dos socialistas.
Interrogado se considera o PS um partido de esquerda e se exclui entendimentos pós-eleitorais, o secretário-geral do PCP defendeu que Portugal precisa de uma rutura e advogou que aos socialistas se coloca «uma exigência de clarificação».
Jerónimo de Sousa deixou ainda mais um recado ao PS: «Não basta proclamar-se de esquerda, é preciso sê-lo na política e nas medidas que se propõem aos portugueses».