Recebeu a alcunha pelos "escândalos" que criava. Foto jornalista do Primeiro de Janeiro, durante o Estado Novo, conheceu o meio das tertúlias no Porto e apaixonou-se pela fotografia que tratava com esmero raro. 46 anos depois da sua morte, resta um espólio de arte, em fotografias a preto e branco, que o bisneto não quer deixar cair. A TSF revela esta inquietante personalidade minhota, numa Grande Reportagem de Manuel Vilas Boas e João Félix Pereira.
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António Silva, de seu nome completo António Augusto Machado Álvares da Silva, tem as suas origens, em finais do séc. XIX, nos viscondes de Fervença, em Gilmonde, no concelho de Barcelos.
Será, contudo, em Pedra Furada, do mesmo concelho, onde surge formatado por uma multifacetada educação de uma família com responsabilidades sociais e políticas, que o "homem diabo", assim chamado na aldeia, se há-de erguer, nos anos 30 e por 30 anos, como fotojornalista do Primeiro de Janeiro.
Será nesta condição que assinará trabalhos com o nome artístico de Silva Gajo (gravado num carimbo pessoal), uma corruptela intencional de Gayo, da parte da mãe, mas que o pai, por pequena desavença, não quis que o filho o usasse.
Este nome surge na rua que lhe foi dedicada, em Pedra Furada.
A vida atirou-o, entretanto, para o jogo de tertúlias literárias, no meio portuense.
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As viagens pelo estrangeiro e a paixão pela fotografia dominaram este espírito inquieto. De modo especial, nas imagens a preto e branco, correria ousadias, impressas em modelos femininos, que arrancava dos ampliadores, por ele mesmo fabricados.
De regresso da profissão de fotojornalista do Primeiro de Janeiro, jornal liberal e independente, onde escreveram, entre outros, Camilo, Eça e Ortigão, de volta a uma aldeia minhota, de moral tradicional, causou "escândalo" permanente. Pelo trajo e nas palavras.
No jardim da sua casa agrícola do Sardoal, em Pedra Furada, ainda se passeiam estátuas de livre expressão, por entre textos e poemas, em azulejos, de livre pensamento.
A família e a Câmara de Barcelos coordenam esforços para que não se desapareça um espólio original e ainda preservado, que o futuro não pode perder.
"António Silva, um fotógrafo dos diabos" é uma grande reportagem de Manuel Vilas Boas, com sonoplastia de João Félix Pereira e a participação especial de Fernando Alves e Margarida Pogarell. Para ouvir na TSF e em tsf.pt