APAV capacita profissionais do turismo para combate ao tráfico humano: têm "contacto direto com potenciais vítimas"
Em declarações à TSF, Joana Menezes, da APAV, identifica alguns sinais de alerta a que estes trabalhadores devem prestar atenção
Corpo do artigo
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) está a promover esta quarta-feira uma formação junto do setor da hotelaria para capacitar estes profissionais a identificarem sinais de tráfico humano.
Em comunicado, a instituição sustenta que o setor do turismo e da hotelaria tem uma posição estratégica no combate a este fenómeno devido ao "contacto direto diário com potenciais vítimas". Ouvida pela TSF, Joana Menezes, da APAV, aponta que "quartos de hotel, restauração" ou até mesmo "serviços de motorista" são frequentemente sítios "por onde passam pessoas vítimas de tráfico".
"Seja tráfico para exploração sexual, por exemplo, que é extremamente difícil de detetar e que eventualmente pode ter as vítimas a passarem por ali, seja tráfico para exploração laboral no contexto do desporto, que é, aliás, uma das situações que mais tem sido identificada em Portugal", alerta.
Joana Menezes explica que, neste último caso, são recrutadas pessoas com a promessa de se virem a transformar em "atletas profissionais" integrando "academias desportivas". Mas, na realidade, acabam "exploradas de outras formas, nomeadamente muitas vezes desempenhando tarefas laborais que vão desde a agricultura até à limpeza".
É, contudo, possível estar atento a sinais de alerta que permitem identificar potenciais vítimas: por exemplo, é importante perceber se quem chega está "autorizado a tomar decisões por si próprio"; estas vítimas muitas vezes "não falam a mesma língua" do país em que estão e, por isso, "têm alguém que faz um serviço de intérprete por elas ou que fala por elas em muitas circunstâncias"; ainda, os documentos de identificação podem "não estar regulados" ou, quando estão, encontram-se na posse de outra pessoa.
"Dentro de um quarto há uma pessoa que nunca ninguém vê. Se é pedido constantemente que o quarto não seja limpo, portanto, que se impeça constantemente a entrada de pessoas de staff do hotel num quarto. O barulho que se ouve, se entram ou saem outras pessoas que não estão ali alojadas", acrescenta.
Depois de identificada uma potencial vítima de tráfico, é importante perceber de que forma se pode agir. "Nem sempre pode ser seguro as pessoas chamarem as autoridades logo no momento", explica Joana Menezes.
Nestes casos, é fundamental tentar reunir a maior quantidade de informação possível, nomeadamente sobre "para onde é que a pessoa vai ou onde é que foi", antes de se fazer uma denúncia à Polícia Judiciária — responsável pela investigação destes crimes.
Abordar diretamente a vítima também pode colocar em causa a sua segurança, bem como do profissional que a tenta ajudar. As situações têm de ser avaliadas caso a caso, sendo que as escolhas tomadas devem salvaguardar sempre a segurança "das duas pessoas".
A iniciativa desenvolvida pela APAV é feita em parceria com o Marriot Business Council Portugal e a Associação de Hotelaria de Portugal, no âmbito do Dia Mundial contra o Tráfico de Seres Humanos, que se assinala a 30 de julho.
O tráfico de seres humanos é considerado o terceiro crime mais lucrativo do mundo. O Observatório do Tráfico de Seres Humanos estima que, todos os anos, haja mais de sete mil vítimas na União Europeia. Só em Portugal, em 2023, foram sinalizados 622 casos.
