Os bispos portugueses pediram que se evite a "excessiva crispação sociopolítica" no momento atual do país, apelando à "cultura de diálogo" e à sobreposição dos interesses nacionais aos particulares.
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"Os bispos debruçaram-se sobre a atual situação do país, desejando que tudo decorra no quadro constitucional, sem excessiva crispação sociopolítica, geradora de insegurança e desmotivação", refere o comunicado final da assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), cujos trabalhos terminaram hoje em Fátima, distrito de Santarém.
No documento, lido pelo porta-voz da CEP, padre Manuel Barbosa, a Igreja Católica apela "à cultura de diálogo e de encontro no respeito recíproco, à informação verdadeira e transparente, à sobreposição dos interesses nacionais acima dos particulares, à dignificação da política, aos consensos nas questões fundamentais, à reconciliação e à paz na diversidade, em que todos os cidadãos se sintam responsáveis".
Na terça-feira, o parlamento aprovou a moção de rejeição do PS ao Programa do XX Governo Constitucional, com 123 votos favoráveis de socialistas, BE, PCP, PEV e PAN, o que implica a demissão do executivo PSD/CDS-PP, que se mantém em regime de gestão até um futuro executivo tomar posse.
Na conferência de imprensa que se seguiu à leitura do comunicado, o presidente da CEP, cardeal-patriarca Manuel Clemente salientou que o país está "num momento de escolhas, de opções" para "garantir o melhor futuro".
"É nesse sentido que apelamos à serenidade, à calma, com certeza que há diversas posições em confronto, mas isso faz parte da vida democrática normal, respeitemos e procuremos todos o melhor caminho dentro do quadro constitucional em vigor", defendeu Manuel Clemente.
À pergunta se sente necessidade de "nova clarificação eleitoral", Manuel Clemente, neste caso falando a título pessoal, considerou ser necessária uma "clarificação" relativamente aos acordos estabelecidos entre os partidos de esquerda.
"Como cidadão quero ver, antes de mais, a clarificação do que há e creio que ainda estamos nesse processo, porque tanto quanto eu vi na comunicação social, mesmo os acordos que estarão na base de um possível governo, como se apresenta, ainda precisam de maior esclarecimento, concretamente em termos da opinião pública", afirmou.
Referindo-se aos partidos mais à esquerda, o cardeal-patriarca de Lisboa salientou que "são cidadãos como os outros cidadãos, apresentaram-se à eleição, tiveram os votos que tiveram, combinam-se com as outras forças políticas que estão presentes na Assembleia da República, é daí que saem os governos depois por indicação do Presidente da República".
"Depois, quanto às situações precisas, cá estaremos nós, como estão outras forças e outras realidades da opinião pública portuguesa para expressar a nossa opinião", observou.
Sobre a eventualidade do trabalho das instituições sociais poder ser colocado em causa por um governo sustentado no parlamento pelo Partido Comunista e Bloco de Esquerda, Manuel Clemente avisou que "se isso for assim, temos de conversar", assinalando que a "subsidiariedade está inscrita nos textos europeus, não é privativa da Igreja Católica".
"Uma sociedade democrática funciona na conjugação da subsidiariedade com a solidariedade e uma sem a outra não funciona devidamente", acrescentou, admitindo que "em risco estão todos os princípios", mas a Igreja está cá "para ver se são promovidos e defendidos".