Apoio à eficiência energética "não é viável para famílias de baixo rendimento"
O investigador e arquiteto Afonso Nuno Martins lamenta que os programas de apoio à eficiência energética não sejam pensados para aqueles que vivem em habitações sociais com debilidades térmicas.
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O arquiteto Afonso Nuno Martins já trabalhou na construção e no estudo de bairros sociais em todo o mundo. Das favelas brasileiras, às vulneráveis casas guineenses, o investigador conhece também os meandros da habitação social portuguesa e reconhece que, salvo raras exceções, "houve a dada altura muita má construção na habitação social". Essas casas apresentam, de forma geral, fragilidades em termos energéticos e aderir a programas de apoio à eficiência exige que as famílias tenham uma folga orçamental, afirma o investigador.
Apesar das mais-valias para o bolso das pessoas e para o ambiente, Afonso Nuno Martins lamenta que os programas de apoio à eficiência energética não sejam algo "viável para as famílias de baixos rendimentos".
Esses planos permitem, por exemplo, substituir janelas simples por janelas duplas ou adquirir uma bomba de calor. No entanto, os programas exigem que se invista primeiro e só depois de concluída a obra é que existe a "esperança de conseguir esse apoio", explica Afonso Nuno Martins.
Todas estas modificações nas casas não seriam necessárias se, estruturalmente, as habitações já tivessem equipadas com equipamentos que priorizam a eficiência energética. Afonso Nuno Martins considera que quando se abandonou "o princípio de não se querer ganhar dinheiro à custa da habitação", que existia com as cooperativas do setor, caiu por terra a preocupação com "os métodos [de construção], os materiais locais ou a boa arquitetura".
Quem sai mais prejudicado com as fragilidades nas habitações são as pessoas com baixos rendimentos, cujo dinheiro não chega para aquecer a casa no inverno e resguardá-la no verão.
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Para reduzir a fatura da eletricidade, o professor da Universidade da Beira Interior sintetiza, dizendo que é preciso "uma boa arquitetura". Janelas, paredes e telhado são os três eixos mais importantes para ter uma casa eficiente em termos energéticos, que, para além da poupança no bolso das pessoas, beneficia também o ambiente.
"Os gases provocados pelo aquecimento das habitações têm um peso quase equivalente ao da indústria e dos transportes nas emissões de gases com efeito de estufa", diz o investigador.
Não é preciso ir lá fora para encontrar bons exemplos de bairros sociais "com um comportamento térmico de altíssima performance", garante o arquiteto. Afonso Nuno Martins considera o Bairro do Pinheiro, na Guarda, ou o Bairro de Vila D'Este, em Vila Nova de Gaia, como exemplos a seguir.