Aposentado da função pública é mestre na arte de construir guitarras portuguesas

Armando Pereira tem 70 anos, mas esta grande paixão vem desde bem cedo.
Corpo do artigo
Das hábeis mãos de Armando Aníbal Pereira saem guitarras portuguesas, cavaquinhos, guitarras clássicas ou acústicas, todas trabalhadas com extrema dedicação.
Este transmontano, natural de Sambade (Alfândega da Fé), mas a residir em Bragança, onde tem a sua oficina de instrumentos musicais. Armando mostra com orgulho o seu novo instrumento "exclusivo". Trata-se de um bandolim e um cavaquinho. "São dois em um", diz. "Foi há coisa de três meses que me lembrei de o fazer assim. Foi um bocadinho difícil conseguir acertar um braço e outro, porque um é sobreposto e o outro é escala rasa, que é um bocadinho mais baixa, mas lá consegui", adianta com satisfação enquanto toca "a modinha do apita o comboio".
Armando Pereira tem 70 anos, funcionário público aposentado, há oito anos, mas a sua grande paixão, desde bem cedo, sempre foi a música, ou melhor as guitarras. Teve a primeira aos 14 anos quando um amigo lhe pediu para levar para Bragança, onde estudava, uma guitarra portuguesa para consertar. A partir daí entusiasmou-se de tal forma pelo instrumento que fez a sua própria guitarra. "Andei algum tempo com a intenção de criar uma guitarra para mim, mas o meu pai não me dava dinheiro porque naquele tempo era difícil e ele queria era que eu estudasse. Então, comecei a fazer uma guitarra, arranjei um caibro de restos da obra da casa que o meu pai fez e acabei por fazer a primeira guitarra e andei com ela até aos meus 25 anos".
TSF\audio\2023\05\noticias\18\fernando_pires_instrumentos_musicais
Foi aperfeiçoando a técnica, mas, só há cerca de 8 anos, se dedicou profissionalmente a esta arte tão musical. Assume-se como um autodidata e das suas hábeis mãos saem guitarras portuguesas e não só. "Já fiz cavaquinhos, o machete da Madeira, o ukulele, a guitarra portuguesa, a guitarra clássica, acústica e a viola braguesa", conta.
Um dos segredos está na escolha das madeiras para que os instrumentos musicais tenham o melhor desempenho acústico. "A madeira que usamos para o tampo harmónico, a parte da frente, é mais macia e vibra melhor, já para a parte das ilhargas, das costas, é madeira mais dura, para projetar mais o som cá para fora", explica.
Armando Pereira admite que continua a trabalhar por amor à arte, porque a rentabilidade essa diz ser muito reduzida. "Guitarras portuguesas tenho-as a partir de 450 euros até 1200 euros, depende dos materiais. Por exemplo, um cavaquinho custa 80 euros, leva dois ou três dias a fazer, ora 80 euros ganha-os um trolha num só dia e sem grande ferramenta, porque basta um colher e uma talocha, enquanto eu ainda tenho de comprar a madeira, os carrilhões, as máquinas para cortar a madeira e ainda gasto dois ou três dias", afirma este artesão que também toca vários instrumentos, um bocadinho de cada, e até integra um grupo de concertinas de Bragança.