A carne era oriunda "sobretudo de caprinos", tinha origem em abate clandestino e estava avaliada em perto de 58 mil euros.
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A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) apreendeu, esta sexta-feira, cerca de 6,6 toneladas de carne, dinheiro em numerário, armas de fogo e munições numa operação direcionada ao abate clandestino nos concelhos de Loures, Mafra e Lisboa, foi este sábado divulgado.
O diretor da unidade de investigação criminal da ASAE, Sérgio Ribeiro, explicou à TSF que este caso estava sob investigação "há mais de um ano", tendo as apreensões resultado de dois mandados de busca domiciliária, oito de busca não domiciliária e um de busca digital, bem como da fiscalização de três talhos. No âmbito da operação, dois cidadãos foram constituídos arguidos, tendo sido sujeitos a termo de identidade e residência.
Os 6600 kg de carne apreendida são "sobretudo de caprinos" e provenientes de "abate clandestino", sendo que parte do produto "já não estava sequer em condições de ser comestível" e tinha ainda "falta de rastreabilidade", tendo o total sido avaliado em perto de 58 mil euros.
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Questionado sobre se há uma rede criminosa na origem deste caso, Sérgio Ribeiro contextualizou o caso como tendo origem numa "família que, dentro da atividade lícita que desenvolve, desenvolvia também esta componente mais ilícita".
Em épocas festivas como a do Natal, explicou, "o abate clandestino ganha alguma predominância", pelo que "estrategicamente houve intenção de associar esta ação operacional" ao momento do ano "justamente porque há maior procura de carnes e, portanto, é de facto uma janela de oportunidade para que o abate clandestino também ganhe toda esta exposição".
Os chamados abates clandestinos acontecem quando são feitos sem as "condições necessárias de salubridade e de inspeção sanitária" e, neste caso, a carne era depois "conduzida para talhos comerciais" onde se consumava a "prática do crime de abate clandestino".
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"Era aqui que o público adquiria as carnes impróprias para consumo e, portanto, era neste ato de aquisição que se consumava o crime de consumo público de carnes provenientes de abate clandestino", explicou o diretor da unidade de investigação.
Sérgio Ribeiro reconhece que, para o consumidor, "é sempre um bocadinho difícil" conseguir perceber, num talho, se a carne que está prestes a comprar "é oriunda ou não de abate clandestino".
Ainda assim, "há um conjunto de obrigações que os operadores económicos têm de cumprir", entre elas a obrigação de marcar as carcaças provenientes de abate legal, com as "chamadas marcações de salubridade, uma espécie de carimbos" que indicam o abate em matadouro legal. O problema é que, "depois de a carne a ser fragmentada, já é difícil" perceber se as marcações "existem ou não, portanto para o consumidor é sempre muito mais difícil perceber a origem das carnes".
Além da carne, foi ainda apreendida, em numerário, a quantia de 11.470 euros, uma caçadeira de calibre 12, e 37 cartuchos do mesmo calibre, bem como "um revólver de calibre 22 municiado com seis munições e 38 munições do mesmo calibre".