"Aquecimento global facilita." Infeciologista diz que país está preparado para dengue, febre amarela e zika
O infeciologista Jaime Nina não tem dúvidas de que o aquecimento global é um risco que favorece o aparecimento destes mosquitos.
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O infeciologista Jaime Nina confia que Portugal tem condições para enfrentar um aumento de doenças como a dengue, febre amarela e zika depois de, esta quinta-feira de manhã, o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças ter alertado que os mosquitos que propagam estas doenças estão a espalhar-se pela Europa por causa do aumento das temperaturas. O especialista explicou que estes avisos são feitos com regularidade, tendo em conta os casos que já surgiram na Europa.
"Em 2012 houve um surto de dengue na Madeira com 2200 e tal casos. O mosquito existe lá na Madeira desde 2005, o aedes aegypti. Portanto, se algum viajante chegar e tiver um período de viremia ou de dengue, zika, febre amarela, de chicungunha, do que for e for picado pelo mosquito na altura em que tem visto em circulação pode começar um surto. Foi isso que aconteceu em 2012 e não é só em Portugal, tem acontecido em França, em Itália, em Espanha, na Grécia e na Jugoslávia. No ano passado, na França, por exemplo, houve um surto de 231 casos de dengue, no Sul de França", recordou à TSF Jaime Nina.
Para o infeciologista, o aquecimento global é, sem dúvida, um risco que favorece o aparecimento destes mosquitos, mas os invernos frios são uma forma de prevenção.
"O aquecimento global facilita a vida dos mosquitos. Por exemplo, o surto da Madeira acabou quando ficou frio. Morreram os mosquitos, acabou surto. O que, diga-se de passagem, foi um atestado de não eficiência aos serviços de saúde locais que não conseguiram controlar o surto, quem controlou foi a temperatura. A Europa, de certa maneira, tem-se parcialmente protegido pelo facto de ter invernos frios, mas isto é relativo. Existiu dengue em Portugal, existiram outras infeções transmitidas por mosquitos em Portugal, nomeadamente a febre amarela, que é de longe a mais grave de todas. Aliás, o maior surto de febre amarela na Europa foi aqui em Lisboa, em 1857, com cerca de 1600 casos e 550 mortes", explicou o infeciologista.
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O infeciologista confia que Portugal está preparado para enfrentar estas doenças.
"Quer o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, quero aqui IHMT, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, fazem parte de uma rede com as autoridades municipais em que, todos os anos, são capturadas dezenas de milhares de mosquitos e analisadas para ver se estão infetadas com alguns desses vírus e permite dar um alerta precoce se houver introdução de um desses vírus em Portugal.
No Algarve, o Instituto Ricardo Jorge, em colaboração com a ARS do Algarve, está a desenvolver um estudo para eliminar o mosquito que transmite a dengue. Os investigadores estão a utilizar uma técnica que consiste em libertar mosquitos machos, mas estéreis, que ao acasalarem com fêmeas levam a que se inviabilizem as novas gerações de mosquitos, o que permite controlar e suprimir a população natural dos mosquitos.
O Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) apercebeu-se da disseminação, pelo norte e oeste da Europa, do mosquito tigre asiático, que é portador dos vírus da dengue e da chikungunya.
Em simultâneo, durante o último ano, a espécie responsável pela transmissão da febre amarela, zika, chikungunya e o vírus do Nilo Ocidental estabeleceu-se no Chipre "e poderá espalhar-se para outros países europeus", acautelou a instituição.
Durante a conferência de imprensa, a diretora do ECDC, Andrea Ammon, referiu que as doenças transmitidas por estes insetos não são a única preocupação: "Pode haver uma disrupção nos 'stocks' de sangue".
Em 2022, 1.133 pessoas adoeceram (92 morreram) com infeções do vírus do Nilo Ocidental na Europa. Deste total, 1.112 contraíram a infeção em 11 países europeus. O número é o mais elevado desde 2018.
As infeções ocorreram em Itália (723), Grécia (286), Roménia (47), Alemanha (16), Hungria (14), Croácia (oito), Áustria (seis), França (seis), Espanha (quatro), Eslováquia e Bulgária (um cada).
No que diz respeito à propagação da dengue, houve 71 pessoas que contraíram a doença em 2022 através de contágio local, o que equivale ao número total de europeus infetados com este vírus entre 2010 e 2021, alertou a ECDC. As infeções foram registadas em França (65) e em Espanha (seis).
As autoridades locais de cada país europeu podem prevenir a propagação destes mosquitos eliminando fontes de água estagnada que eles utilizam para a reprodução, utilizando pesticidas ecológicos para matar as larvas e alertando as populações.
Numa ótica pessoal, a ECDC recomenda a utilização de redes mosquiteiras e a utilização de roupas que cubram a maioria do corpo, assim como repelentes.