Só depois da estrada e da cumplicidade encontrada a partir de universos tão diferentes é que Camané e Laginha decidiram fechar-se em estúdio.
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"Aqui Está-se Sossegado". Esta é a senha para entrar no encontro mágico de duas figuras maiores da música portuguesa. O fadista Camané, voz masculina referência do fado e o pianista Mário Laginha, pianista superior que tem o jazz no coração mas que encheu a alma da canção de Lisboa, primeiro para os espetáculos com o fadista e, depois, para a gravação de um disco que é agora editado.
Um caminho que se fez ao contrário do habitual. Depois de outros encontros, ao vivo, com Camané (e até, em tempos, a quatro mãos com Bernardo Sassetti), ou até na gravação, por exemplo, de "Ai Margarida" (texto construído sobre um poema de Álvaro de Campos, musicado e editado em 2013), só depois da estrada e da cumplicidade encontrada a partir de universos tão diferentes é que Camané e Laginha se decidiram fechar-se em estúdio.
A seleção de clássicos do fado estava feita, o repertório de Camané podia ser revisitado mas houve ainda espaço para inéditos cantados pelo fadista ou apenas tocados pelo pianista.
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Mário Laginha confessa que "quis ouvir ainda mais os músicos que acompanham habitualmente Camané para tocar melhor". Um virtuoso do piano que nunca tentou levar o fadista para o território do jazz. "Eu é que tive de aprender a respeitar o tempo e o espaço do fado", disse Laginha à TSF, antes da edição do novo "Aqui Está-se Sossegado".
Neste novo trabalho, editado esta sexta-feira, estão clássicos como Com que Voz, Não Venhas Tarde ou A Casa da Mariquinhas. Amália, Carlos Ramos ou Alfredo Marceneiro homenageados num disco que também tem composições conhecidas de Manuela de Freitas com José Mário Branco como Ela Tinha Uma Amiga ou Guerra das Rosas, David Mourão Ferreira ou Luís Vaz de Camões musicados por Alain Oulman em Abandono ou Amor É Fogo que Arde Sem Se Ver e originais de Mário Laginha tocados a solo, como em Rua da Fé ou Fado Barroco, ou com letras de João Monge ou Maria do Rosário Pedreira. Há ainda um Fado Alfacinha, um Fado Bailarico/Fado Lopes e o Fado Espanhol que dá nome ao disco "Aqui Está-se Sossegado".
O disco chegou esta sexta-feira às lojas mas até já há apresentação ao vivo agendada para Dezembro. Dia 20 (dia de aniversário de Camané), o fado cantado ao piano vai ter lugar no espaço central do Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Um encontro mágico que se repete ao vivo e que se pode testemunhar bem de perto.