Já foi usado por caçadores de focas, o navio que gosta é de gelo marca a atracagem da Greenpeace em Portugal com uma viagem Lisboa-Porto. E dá boleia à TSF
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Se tudo correr como previsto, a partir das 17h00 desta quinta-feira, quem está no Porto pode ir ao porto de Leixões e visitar o emblemático Arctic Sunrise até domingo.
A esta hora, quase 14h00, já há de novo terra à vista. Daqui a pouco, a embarcação dos pilotos de barra deverá estar aqui para ajudar o Arctic Sunrise a entrar na barra. Parece que vai demorar mais do que o previsto, porque está a trabalhar com um navio de cruzeiro. Um gigante ao pé de nós.
Para trás ficam momentos em que o tempo não anda, é mar e mar e mar por todos os lados. Só o rumo do barco e o rasgar das ondas nos leva a acreditar que se avança e que temos direção. De resto, balouça-se. Noite e dia.
Têm sido horas sem chão firme, de eterno e implacável balouçar. Está mais do que confirmada a alcunha "máquina de lavar" - nalguns pontos do navio só se vê a água rodopiar à volta das escotilhas. Afinal, este é um navio para furar gelo, não as "simples" vagas do Atlântico.
Este Sunrise navega como um pato de borracha numa banheira infinita. Vale-nos a reserva de medicamentos para o enjoo que tem direito a uma caixa inteira no armário/farmácia.
Desde as 17h00 de quarta-feira, altura em que nos juntamos à tripulação, passamos a viver como todos eles. No mar não há espaço para categorias, não há direito a isenções no que toca ao cumprimento das regras de segurança. Porque daqui, tão depressa, não há mais para onde ir. No mar, é o mar quem manda.
Todo o espaço é precioso e milimetricamente usado. Esta é a casa toda de umas 30 pessoas, tudo o que é essencial tem de caber neste espaço de quase 50 metros de comprimento, ainda por cima sempre em movimento.
Há que deixar sempre "uma mão para o barco", é raro movermo-nos sem nos segurarmos a qualquer objeto fixo. Cada um é responsável por limpar o que suja, arrumar o que tirou do sítio, recolocar o que usou e sobretudo por zelar pela sua própria segurança, a todo o momento. As regras para reciclar tudo o que é reciclável e poupar o ambiente vão desde as casas de banho até aos produtos
É um ritmo de vida rígido e sincronizado, com uma tripulação que tem a particularidade de representar meio mundo neste pedaço de metal.
Charlote, a cozinheira, é britânica. Josh, o piloto das lanchas, é norte-americano da Carolina do Norte. Rosie, a técnica de informática e afins, é brasileira. E por aí fora. Mas todos se dividem entre as funções mais "marinheiras" e as ações ambientalistas.
Muitos estão com a Greenpeace há décadas, 30 anos no caso de Mike, o piloto. Outros são voluntários há alguns anos ou intermitentes como tem sido o caso de Hugo, um português.
Às visitas pode não parecer, mas garantem-nos que temos tido um "mar santo" de tão calmo. Poupamos, por isso, tempo na viagem e até temos chance de testar uma das lanchas usadas nas ações da organização.
Cada um a bordo tem a sua história, as suas motivações. Todos admitem que nunca foi tão difícil defender a agenda ambientalista, que o mundo destes dias não está para sonhadores, mas todos dizem que, talvez mais que nunca, não há alternativa à esperança.