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A exposição sobre “mulheres e casas” - a luta no feminino por melhores condições de vida - vai percorrer o país. Até ao final do mês está no Museu do Aljube, em Lisboa
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Ausenda Moreira foi uma das promotoras do movimento de moradores que ocuparam, dias depois do 25 de Abril, as casas em construção naquele que é hoje conhecido o Bairro 2 de Maio. Esmeralda Mateus enfrentou os preconceitos dos vizinhos e da sociedade ao ser a primeira mulher a integrar a associação de moradores. São dois exemplos de mulheres que lutaram pelo direito à habitação em Portugal e que agora são lembradas na exposição “Arquitetas da Liberdade”. Patente no Museu do Aljube, em Lisboa, até ao final do mês de abril, a mostra pretende ser uma homenagem ao caminho percorrido pelas portuguesas que lutaram por casas dignas para todos.
A iniciativa nasceu pelas mãos da associação Mulheres na Arquitetura, como resultado de uma reflexão sobre o “papel das mulheres, não só de arquitetas, mas também de moradoras, técnicas sociais e outras, na questão das carências habitacionais, mas também numa perspetiva de perceber qual a relevância, nestes últimos anos, desta história que ainda está por contar”, explica Joana Pestana Lages, uma das responsáveis pela exposição.
A mostra começa pelo período da ditadura, ao revelar as condições precárias em que muitas das famílias portuguesas viviam. “Falamos de um país extremamente empobrecido, com uma infraestrutura quase inexistente, onde a água canalizada não chegava a um terço das casas”, retrata a arquiteta.
A Revolução dos Cravos também abriu caminho à “função social da arquitetura”. “Os arquitetos começaram a refletir como é que a partir dos valores democráticos podiam construir, efetivamente, a igualdade”, acrescenta Joana Pestana Lages.
A exposição pretende também ser uma lição para a atual crise na habitação. A arquiteta sublinha que, ao longo dos vários paineis que compõem a sala, é possível encontrar exemplos de “experiências que foram testadas e com resultados positivos, que podem ser replicadas”, como o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) ou o cooperativismo.
Joana Pestana Lajes deixa ainda um alerta: “As mulheres continuam a ser quem tem mais dificuldade em encontrar casa”, seja porque ainda existe uma diferença salarial em relação aos homens, ou porque são as mulheres que encabeçam a grande maioria das famílias monoparentais em Portugal.
A exposição “Arquitetas da Liberdade” está patente no Museu do Aljube até ao fim deste mês. Passa depois pelas cidades de Évora, Porto, Coimbra e Covilhã.