Arquitetos querem respostas para falta de alojamento estudantil, universidades alertam para "oferta pública insuficiente"
A Ordem dos Arquitetos apresentou medidas para ajudar a resolver a falta de camas para alojamento estudantil. Há 16 mil camas disponíveis para os mais de 170 mil alunos deslocados. As universidades ouvidas pela TSF saúdam os esforços para aumentar a oferta, mas avisam que ainda não é suficiente
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A Ordem dos Arquitetos apresentou ao Governo um conjunto de medidas que considera fundamentais para resolver a crise na habitação, com especial destaque para a falta de alojamento estudantil. “Estamos perante um problema da habitação que é significativo, sabemos dos problemas das habitações precárias e toda a discussão que tem surgido nos últimos tempos, que é muito importante, não a desvalorizamos, mas a questão em termos de mercado de arrendamento, o alojamento estudantil é fundamental para ajudar a resolver”, refere Avelino Oliveira, em declarações à TSF.
O presidente da Ordem dos Arquitetos sublinha que as recomendações não são novas, mas voltam a estar na ordem do dia, porque o “número de estudantes descolados tem diminuído”. “Os jovens já não escolhem o curso ou a universidade que querem por esse objetivo, mas também já muito em função da disponibilidade da habitação e isso preocupa-nos", defende. Avelino Oliveira lembra que a média nacional do preço de um quarto situa-se perto dos 450 euros.
Por isso, considera que é preciso aumentar a oferta. “Temos alguma ação em termos de residências públicas, temos cerca de 16 mil camas, mas diz a estatística que as necessidades são muito maiores, portanto, temos cerca de 170 mil alunos deslocados, o que significa que a oferta é pequena”, refere.
A Ordem dos Arquitetos defende também como medidas essenciais a diminuição da burocracia e o aumento da fiscalização a quem arrenda sem contrato. “Os alunos dizem muitas vezes que nem conseguem os benefícios fiscais, porque a oferta que encontram é no mercado paralelo, onde o proprietário não paga impostos e o estudante não tem condições para reclamar os seus direitos”, afirma Avelino Oliveira, lamentando ainda que a sensação que existe é que “há um benefício da inflação”.
Entre as medidas propostas pelos arquitetos está também a criação de uma bolsa ou plataforma, onde aqueles que queiram beneficiar, quer do lado dos proprietários, quer do lado dos estudantes, dos benefícios fiscais, tenham de estar inscritos.
“Reconhecemos o esforço que tem sido feito, mas parece-nos importante também dar o alerta de que a situação este ano não melhora em relação ao passado”, constata Avelino Oliveira.
Alojamento disponível de norte a sul do país
A TSF ouviu reitores de pontos opostos do país para saber como estão a lidar com a questão do alojamento. A sul, o reitor da Universidade do Algarve destaca as melhorias em relação ao ano passado, com a criação de cerca de 40 camas. Há agora 556 camas disponíveis, o que permite “assegurar alojamento para todos os alunos bolseiros”, adianta Paulo Águas, que sublinha também que este ano houve menos 200 candidatos inscritos.
O reitor descarta, no entanto, a hipótese de que a redução do número de alunos inscritos no ensino superior possa estar relacionada com as dificuldades em encontrar casa. “Acho que há dificuldades, mas só em situações muito particulares é que a escolha é condicionada pelo alojamento, porque, se porventura, o alojamento fosse tão determinante na escolha, nós teríamos os estudantes a não se deslocarem, mas dos 1326 estudantes inscritos, um terço são de fora do Algarve, e mesmo aqueles que vivem na região são deslocados, porque o Algarve tem um problema de mobilidade, um estudante a 30 km de Faro não consegue fazer movimentos diários”, indica Paulo Águas.
A maior dificuldade, segundo o reitor, continua a ser convencer os privados a disponibilizar alojamento para os estudantes. Um esforço feito este ano pela Universidade do Algarve, que acabou por dar poucos frutos. Paulo Águas conta que contactou vários operadores de alojamentos locais na região a propor “contratualizar com eles durante dez meses, até um valor máximo de 380 euros por cama, mas só dois ou três responderam”.
Ainda assim, Paulo Águas mantém-se otimista porque no próximo ano conta ter mais 287 camas disponíveis, consequência dos investimentos que estão em curso.
Mais a norte, em Vila Real, o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro lamenta que a oferta pública de residências universitárias seja insuficiente. Emídio Gomes refere que muitas das residências estão a ser renovadas, o que levou a uma redução ainda maior de camas disponíveis.
"A situação da UTAD é muito particular, porque temos cinco novas residências a serem construídas, a terminar até março do ano que vem, duas delas são remodelações de residências já existentes, o que nos obrigou, temporariamente, a reduzir a oferta por razões de segurança durante a obra. Temos uma ocupação a 100%, porque a procura é superior à oferta. Temos de garantir a todos os que tinham residência nos serviços sociais no ano anterior, a manterem, caso desejem, e também a todos os que têm direito à atribuição de bolsos sociais, ou garantimos lugar nas nossas residências, ou atribuímos o complemento previsto em termos da lei. No próximo ano a situação altera-se radicalmente, porque tínhamos pouco menos de 600 camas antes. Neste momento, teremos à volta de 400, um pouco menos, dada a redução das obras. A partir do próximo ano letivo teremos mais de 1200 camas", explica.
Já, na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, há alunos que ficam de fora, porque, conta a reitoria Ana Paula Duarte, a oferta pública de residências só cobre alunos bolseiros. Este ano letivo, o número de camas disponíveis diminuiu.
"Este ano temos uma oferta ligeiramente menor, precisamente porque estamos a requalificar e a recuperar algumas residências. O número de camas que temos relativamente ao número de alunos que temos deslocados é relativamente bom comparativamente a outras realidades. Para já, no total, temos 809 camas. Com as obras que estão a decorrer, temos 550 camas para oferecer. São suficientes para os estudantes bolseiros que solicitam residências. Conseguimos, mais ou menos, colmatar no caso dos bolseiros, no caso dos deslocados, obviamente que não, porque somos uma universidade com muitos estudantes deslocados", refere.
A reitora da UBI esclarece que a partir do próximo ano já vão ter mais oferta, mas, para já, os deslocados precisam de procurar alternativas: "Residências privadas são possibilidades um pouco mais acima do valor médio, com outra qualidade. Existem os quartos que os estudantes arrendam e existe grande oferta na Covilhã, que até é uma das cidades que tem um valor relativamente baixo comparativamente a outros. Além desses quartos que são oferecidos, existem as residências privadas."
Notícia atualizada às 10h16
