Às compras em estado de emergência. Filas, sorrisos e discussões no supermercado
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Na loja Pingo Doce da Terrugem, em Sintra, as filas começam cedo. A maioria segue as regras à risca, mas ainda há quem não perceba o perigo que todos corremos.
A hora de abertura de abertura ao público em geral é às dez da manhã, mas às nove, já havia fila. Eram aí umas 20 pessoas, mas, à primeira vista, o tamanho da fila faz-me temer que sejam mais.
Quase todas estão sozinhas, mas há também um ou outro casal e duas mulheres, aparentemente mãe e filha. Uns com máscara, mas sem luvas. Outros com luvas, mas sem máscara. Outros sem nada.
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A maioria está em silêncio, um silêncio que amplifica as poucas conversas sussurradas à distância. A tal, de segurança. À vista desarmada, parece bem mais do que um metro. Certo é que ninguém está "em cima" do vizinho da frente, ou do de trás.
Aí pelas 9h30, São Pedro resolve deixar de "colaborar". Para que ninguém se esqueça que está em Sintra, chove como Deus manda! Os rostos fechados de quem está na fila podiam muito bem ser de quem reza para que ninguém se constipe. Que, afinal, a Primavera está à porta, mas o frio aperta e não é pouco.
Das 9h00 às 10h00, o supermercado está aberto apenas para o pessoal da saúde, forças de segurança e outros que estão na linha da frente do combate ao mal que nos virou a vida de pernas para o ar. Pontualmente às 10h00, a fila avança.
As pessoas começam a entrar. Trinta de cada vez, que a loja é de média dimensão. Uma empregada à porta passa desinfetante nas mãos de todos, um a um, e na barra do carrinho onde apoiamos as mãos.
Lá dentro, as zonas onde há mais gente são o talho, a peixaria e a charcutaria. De forma algo atabalhoada, nos primeiros minutos, os clientes espalham-se o mais que podem, enquanto esperam para serem atendidas.
Entre o balcão e o cliente, há uma barra preta e amarela pintada no chão, uma espécie de fronteira para proteger quem compra e quem vende. Mas há ainda quem não perceba, e lá surge uma ou outra discussão.
Junto à charcutaria, um homem visivelmente exaltado argumenta com a empregada que "tem de ver o queijo" que quer comprar, para que ela "não lhe dê flamengo". Ainda há quem não entenda o perigo que corremos, o papel que cabe a cada um na defesa de todos.
Pelos corredores, as pessoas cruzam-se e, por vezes, até conversam, que é preciso desanuviar disto da emergência. À distância, sem toques; por vezes, com sorrisos, mas quase sempre sem olhares.
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Nas prateleiras, há alguns espaços vazios. Salsa fresca, por exemplo, ainda não tinha sido reposta. Venha de lá a congelada, que remédio.
Na carne embalada, também há algumas clareiras, mas a maioria dos espaços está preenchida. Faltam, como sempre nas últimas semanas, álcool e luvas descartáveis. Mas também não consegui comprar farinha sem fermento, nem uma simples esponja de banho. E sorrio para dentro: "será o mesmo fenómeno do papel higiénico"?!
Quanto aos preços, nesta loja, não notei grande diferença. E as habituais promoções de fim de semana mantêm-se.
Ao contrário do que acontece com frequência nos supermercados, hoje não faltam empregados a quem perguntar tudo, quando há dúvidas. Não vi nenhum com máscara, nem com luvas. Nem na caixa. Mas mantêm a distância. E pedem a quem está na fila para pagar, para o fazer também.
O pagamento é, de preferência, em cartão. Para quem tem de pagar em dinheiro, não há um lugar específico para deixar as notas e moedas, mas há quem arranje soluções criativas, para evitar que as mãos se toquem. Como despejar o dinheiro num guardanapo de papel para depois ser recolhido pelo empregado.
O cartão de cliente é passado pelo próprio, num leitor de códigos de barras que, há dias, não existia.
