As "contas certas que desacertam" e o futuro risonho ao PCP: a estreia de Raimundo na Festa do Avante
O secretário-geral comunista anunciou várias iniciativas para "melhorar significativamente" a vida dos portugueses.
Corpo do artigo
No primeiro discurso de Paulo Raimundo como secretário-geral comunista, na Festa do Avante, e com o antecessor Jerónimo de Sousa logo atrás, a voz não lhe tremeu. Contrastando com as políticas da maioria absoluta de António Costa, e muitos apupos para a direita, Raimundo anuncia que o PCP vai apresentar várias propostas na Assembleia da República já nos próximos dias, e lança um desafio aos que "enchem agora a boca a falar de impostos".
A proposta para a redução de impostos já tinha sido anunciada e Paulo Raimundo acrescenta agora uma mão cheia de outras iniciativas. Para o PCP, as pensões são para aumentar em 7,5%, com um mínimo de 70 euros, e no que toca à crise na habitação, que o comunista define como "drama", o objetivo é que a Caixa Geral de Depósitos defina um spread máximo de 0,25% no crédito à habitação.
TSF\audio\2023\09\noticias\03\francisco_nascimento_raimundo_pcp
Para a direita, desde logo, para o PSD que deu o pontapé de saída no que toca a propostas para a redução de impostos, mas também para o Governo que definiu 2024 como o ano para uma descida, Raimundo deixa um desafio: aprovem agora o que rejeitaram em julho.
"Veremos o que farão os que agora enchem a boca a falar de impostos", atirou.
O comunista nota a incoerência entre a realidade e o discurso do Governo, acrescentando que "é chocante a contradição entre a realidade da vida dura dos trabalhadores e do povo e a propaganda e opulência dos grupos económicos".
Além disso, acrescenta Paulo Raimundo, "as contas certas deles, desacertam e de que maneira as nossas vidas", lembrando que os Governos de António Costa têm seguido a linha das contas certas.
"Dizem-nos agora que a economia está bem. Está bem para os 2 milhões de pessoas em risco de pobreza, das quais 345 mil são crianças? 2 Está bem para cerca de 3 milhões de trabalhadores, que ganham até mil euros de salário bruto por mês?", questionou.
Paulo Raimundo apelou ainda aos comunistas e aos que marcam presença na Festa do Avante, "muitos sem partido", que saiam às ruas e "se façam ouvir": "Quando a grande maioria que é alvo das injustiças e das desigualdades, quando os trabalhadores e o povo tomarem consciência da força que têm, da força da sua luta, da força da sua unidade, aí isto vai mesmo mudar".
"Podem decretar-nos todas as sentenças"
O secretário-geral comunista volta a definir o PCP como a verdadeira alternativa à maioria absoluta socialista, "que não cede ao medo, à chantagem, à ameaça e à mentira" e será capaz "de com outros, com os trabalhadores e o povo no centro da sua ação, construir o País desenvolvido e soberano a que temos direito".
A rentrée comunista dá o pontapé de saída para um ano político agitado no que toca a eleições, como é o caso das regionais da Madeira e as Europeias. Apesar de alguns anteverem uma hecatombe para os comunistas, até pela posição em relação à guerra, Paulo Raimundo afasta os fantasmas.
"Podem decretar-nos todas as sentenças, mas um Partido assim, dos e ao serviço de todos os trabalhadores, tal como revela esta Festa, um Partido assim está destinado, isso sim, a crescer, a alargar e a reforçar-se", disse, sem definir, no entanto, objetivos concretos.
A chuva marcou presença durante grande parte do discurso de Paulo Raimundo, de forma abundante. Resta saber se, num ano político com várias eleições, comício molhado é sinónimo de resultados eleitorais abençoados.