"Portugueses na lista negra de Hitler." As histórias de quem foi morto ou perseguido pelos nazis
Mais de uma década depois de iniciada a investigação, a jornalista Miriam Assor acaba de publicar "Portugueses na lista negra de Hitler", com histórias de morte e sobrevivência.
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São algumas dezenas entre várias centenas de portugueses que, ou acabaram mortos nos campos de concentração da Alemanha nazi, ou sobreviveram para contar o que passaram, especialmente nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial.
A procura dos nomes dos portugueses perseguidos pelos nazis alemães já durava há algum tempo, quando Miriam Assor encontrou o primeiro nome.
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"Augusto Rodrigues, o cascalense, foi o primeiro, quando, em 2009, eu iniciei esta busca", conta à TSF a jornalista, acrescentando que "foi morto em Buchenwald, na Alemanha, no segundo dia de março de 1944".
O perfil do cascalense é o da maioria das vítimas portuguesas do nazismo: trabalhadores emigrados em França, com ligações ao partido comunista francês e muitos refugiados da guerra civil espanhola.
Depois há os judeus, que em vários pontos da Europa, recorrem aos consulados portugueses, para obter os valiosos papéis que esperavam lhes dessem salvo conduto para atravessar as terras controladas pela Alemanha de Hitler.
No no livro, Miriam Assor detalha a história de um famoso grupo dos 19 judeus portugueses de Salónica, onde se incluía Salomão Benrubi. O grupo foi dado como salvo pelas autoridades norte-americanas, mas acabou no campo de Bergen-Belsen, na Alemanha.
Deste grupo, há um sobrevivente que ainda hoje pode contar o que viveu. Maurice Levy tinha 10 anos, quando depois de quase um ano passado no bloco neutro do campo de Bergen-Belsen, com espanhóis, argentinos e turcos, foram depositados em vagões de carga num comboio que as tropas SS abandonaram, com as portas fechadas. Foi assim que as tropas americanas os encontraram.
Na conversa que manteve com Maurice Levy, Miriam Assor ouviu uma história de sobrevivência, de quem não tinha esperança de acordar no dia seguinte.
As histórias das perseguições nazis em toda a Europa são contadas com frequência, especialmente pelos judeus. No caso de Portugal, ao contrário da Alemanha, de França ou de Itália, não havia tradição de antissemitismo.
Há ainda hoje dúvidas se o estado português, através do corpo diplomático, foi ou não eficaz a proteger os cidadãos nacionais que procuraram ajuda.
Miriam Assor, não consegue ser taxativa. A autora admite que os responsáveis portugueses não consideravam os portugueses detidos, por um ou outro motivo, cidadãos nacionais, ou simplesmente, "encolheram os ombros".
Mas Miriam Assor encontrou relatos de diplomatas portugueses, que salvaram pessoas, e confirmou o envolvimento do estado no apoio às entidades que, em Lisboa, garantiram o acolhimento dos refugiados.
"Portugueses na lista negra de Hitler", de Miriam Assor, é uma edição Casa das Letras.