Durante 60 anos, a família Pinto da Costa foi a proprietária do TNSJ. Eduardo Honório dos Santos Lima comprou a maioria das ações da empresa e, em 1932, abriu o São João Cine. José Eduardo Pinto da Costa conta que herdou do bisavô o gosto pelas artes.
Corpo do artigo
José Eduardo Pinto da Costa, o mais velho de cinco irmãos, recorda que a família tinha um camarote privado, conheciam todos os cantos do edifício. Com os documentos do negócio na mão, Eduardo Pinto da Costa recorda como o bisavô comprou a maioria das ações da empresa S. João Cine Ltdª. "Isto era uma sociedade anónima e que tinha vários proprietários de cada ação. O meu bisavô comprou as ações e quando teve a maioria ficou proprietário."
Foi em 1932 que Eduardo Honório dos Santos Lima, bisavô de José Eduardo Pinto da Costa, passou a ser o proprietário do então São João Cine. O médico conta que o bisavô foi sempre um defensor da cultura. "Ele interessava-se pelo teatro e pela música, o Orpheon Portunese estava sediado no Teatro de São João. Tinha muito dinheiro e administrava-o como entendia, muito foi investido em arte."
Eduardo Pinto da Costa tinha nove anos quando entrou pela primeira vez no Teatro São João. "Fazia parte do nosso quotidiano, tínhamos o camarote número 8, que era privativo, quer para teatro como para cinema. Também tínhamos uma frisa perto ao palco para os recitais, que eu vivenciei a partir dos nove anos."
TSF\audio\2020\03\noticias\06\rute_fonseca_tnsj_eduardo_pinto_da_costa_janela_
Aos 85 anos, as memórias destes tempos continuam muito vivas. "Toda a família ia ao teatro e os meus irmãos, a partir dos nove anos, também. Éramos seis e agora somos quatro - dois já morreram. Íamos religiosamente. Andávamos à vontade, tínhamos uma porta de acesso direto aos camarins, contactávamos com os artistas, pedíamos assinaturas, autógrafos, etc."
O tema é comum nos encontros de família. "Quer através de retratos que cultivamos... por exemplo, eu, sentado nas pernas do meu bisavô, teria cinco anos. Não esquecemos, estamos a visualizar permanentemente e ouvimos musica daquele tempo."
Eduardo Pinto da Costa não guarda um momento que considere mais marcante, confessa que são todos. "Eu recebi uma educação musical natural, nasci no meio da música. Até sabia ler com facilidade a música... tocava e mal violino, cheguei a dar um concerto. Também fiz muito teatro na adolescência, acho que devia ser disciplina obrigatória, aqui aprende-se muito a capacidade de comunicar."
Em 1982, o São João Cine é classificado como Imóvel de Interesse Público e, em 1992, a família Pinto da Costa vende o teatro ao Estado. "De geração em geração, a capacidade financeira muda e o preço do imóvel em si vai aumentando. Nenhum dos herdeiros teria capacidade para arcar com aquela responsabilidade e com a manutenção e exploração do teatro. Todos aceitaram. Há alguma nostalgia e frustração, mas é natural."
O passar dos anos trouxe menos tempo livre aos dias, mas Eduardo Pinto da Costa nunca deixou de visitar o Teatro Nacional de São João. Quando lá vai, o olhar ainda procura o camarote número oito. "Se não fizesse nada, ia todos os dias ao teatro."