Cada caso é um caso mas Fernanda Salvaterra, psicóloga do IAC, considera que o problema pode começar logo na avaliação que é feita às famílias que querem adotar uma criança.
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A psicóloga do Instituto do Apoio à Criança defende que a triagem tem de ser "muito rigorosa", ou seja, tem de se prever qual é a capacidade parental dos candidatos que na grande maioria não tem filhos.
A tarefa é muitas vezes exigente porque "as pessoas querem mostrar o que têm de melhor até serem selecionadas no processo de adoção", afirma. Fernanda Salvaterra explica que "quando o psicólogo recebe no seu consultório uma pessoa que vai pedir ajuda, ela vai mostrar as suas dificuldades, nos casos de adoção verifica-se o contrário, as pessoas querem mostrar o que têm de melhor, querem mostrar a todo o custo que são uns ótimos pais".
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O período de pré-adoção que serve para a família e a criança se conhecerem é fundamental, sendo que há sempre dificuldades para ultrapassar. A psicóloga lembra que "uma criança, por mais pequenina que seja, traz com ela experiências traumáticas que vão afetar o seu desenvolvimento, são muitas vezes crianças com um temperamento difícil, mais irritáveis, que choram muito e por isso precisam de ter pais suficientemente bons, com sensibilidade e responsabilidade".
Na fase inicial do processo de adoção são analisadas as características pessoais e o histórico familiar dos candidatos mas isso só por si pode não chegar uma vez que os pais adotivos têm de ter "um cariz quase terapêutico para que possam sarar as feridas que estas crianças trazem".
Na opinião da psicóloga do IAC o problema da devolução de crianças pode passar por dar mais atenção "às características das famílias que querem adotar e esquecer mais os critérios jurídicos ou mais burocráticos, por exemplo da lista de espera".
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"É claro que as pessoas estão muito tempo à espera" para adotar uma criança mas a prioridade não deve ser dada ao casal que está há mais tempo à espera mas sim àquele que está mais bem preparado para enfrentar este papel.
Fernanda Salvaterra fica surpreendida com a noticia do Público, considerando-a "inquietante" sobretudo porque para as crianças representa "uma nova rejeição".