
Maria João Gala/Global Imagens
A 15 de março termina o prazo para os proprietários limparem os terrenos. Há quem esteja preocupado, mas também quem tente contornar as regras.
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A tragédia não sai da memória dos pedroguenses, mas a terra está a recuperar e, aos poucos, as feridas na paisagem vão-se apagando.
Na Casa de Pedrógão Grande, a sala enche-se para uma palestra de sensibilização para combater o abandono das terras e consequentemente prevenir que, em caso de incêndio, as chamas se alastrem. Falam da tragédia como se fosse ontem.
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Teresa Silva nasceu em Pedrógão, mas veio para Lisboa aos seus 11 anos. Agora, com 58, é a diretora da Casa Pedrógão Grande em Lisboa, e conta que o fogo lhe levou "os terrenos todos. Não restou nada, só parte da casa da família. A casa e negro."
No entender de Teresa Silva, a preocupação dos proprietários em cuidar dos terrenos aumentou, mas o interesse passa por querer "contornar as multas duras agora impostas pelo Estado". As ações de sensibilização são importantes, mas "as pessoas não vai sair daqui mudadas. A mudança é extremamente difícil", acrescenta.
A família e as terras de Pedro Nunes estão em Pedrógão Grande. "Só vivo em Lisboa para poder ganhar dinheiro, vou lá para o gastar", conta com um sorriso rasgado.
Pedro Nunes é um dos membros da Casa de Pedrógão, fala da terra com estima, mas tem pena de a ter visto arder tantas vezes, "montes de pessoas tiveram que vir para Lisboa, não era rentável, nem possível continuarem lá. Nós podemos ser líricos e pensar que queremos uma floresta só para respirar, mas os particulares só vão cuidar da floresta se der para a despesa."
Quem não cumprir as normas impostas pelo Estado sujeita-se ao pagamento mínimo de 250 euros. Em 2018, o valor das multas é o dobro dos anos anteriores, e os proprietários têm de cumprir medidas até 15 de março.
Para colmatar o desleixo dos proprietários, a autarquia está a planear criar uma empresa para cuidar da floresta.
O Presidente da câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, ouviu atentamente as dúvidas dos pedroguenses que vivem em Lisboa. No entanto, o autarca afirma que "para as pessoas, o governo e as leis é que têm culpa de tudo. As pessoas queriam é que não houvesse leis."
No momento da sua intervenção limitou-se a dizer "se há vaidade nos proprietários para terem terras, tem de haver coragem para cuidar delas."