Confira as afirmações essenciais feitas pelo antigo primeiro-ministro na entrevista à RTP
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Ainda não são 21h e José Sócrates já está no estúdio: fato azul escuro, camisa clara e gravata azul.
21:07 - começa a entrevista
21:08 [Porque volta agora] «Há um tempo para o silêncio e um tempo para falar. Pretendo (no meu caso é um direito e um dever) tomar a palavra por duas razões: passaram dois anos e não aceito ser confrontado com todas as responsabilidades que os meus adversários me querem atribuir»;
21:10 - (Regresso) «sem nenhum plano para regressar à vida ativa. É uma porta que fecho.»
21:12 - «Só quero contrariar esta narrativa e apresentar a minha versão dos factos»
21:13 - «Quatro ex-líderes políticos do PSD são comentadores na televisão [e] acham que eu não tenho esse direito?»
21:18 - [O PS não o defendeu?] «Compreendo muito bem a atitude do PS, que entrou num novo ciclo (...). O PS procurou concentrar-se nas respostas que devem ser dadas aos portugueses, mas deixou que a narrativa dos meus adversários ficasse sozinha».
21:21 - «Posso confirmar que coloquei como condição trabalhar pro bono, sem receber nada da RTP, por dever cívico.»
21:23 - «Essa narrativa [da direita] tem vários embustes. O primeiro é a ideia de que os problemas que existiam eram apenas responsabilidade do governo e que não havia uma crise internacional».
21:28 - «Foram os mercados financeiros que com a sua ganância provocaram o endividamento dos estados.»
21:30 - «É uma mistificação e um embuste dizer que foi a ação do governo que levou a pedir ajuda externa. Não, foi a crise política e o chumbo do PEC 4».
21:34: «Durante duas longas semanas diz um apelo aos líderes políticos para se discutir o PEC 4. Era uma solução para a crise, como em Espanha e em Itália.»
21:36 - [sobre as críticas de falta de lealdade feitas pelo Presidente da República] «Não reconheço ao Presidente da República nenhuma autoridade para dar lições de lealdade institucional».
21:41 - «O problema do senhor Presidente da República é que sempre usou dois pesos e duas medidas para tratar com este e com o anterior governo»
21:45 - «O senhor Presidente da República teve conhecimento do PEC ao mesmo tempo que todos os outros portugueses (...) assumiu-se como opositor ao governo».
21:47 - «quando se diz que o Presidente da República não faz nada [relativamente ao atual governo e à situação política], a explicação é evidente: ele é uma espécie de patrono desta situação política»
21:49 - «Sempre me opus ao pedido de ajuda internacional. Lutei com todas as minhas forças contra isso (...) Olho para trás e vejo que lamentavelmente muitas instituições baixaram os braços enquanto eu lutava».
21:56 - «É sabido que não gostei que o ministro das Finanças [Teixeira dos Santos] tivesse feito aquela afirmação [sobre a inevitabilidade do pedido da ajuda externa]»
21:57 «Há um outro embuste [o 3º da narrativa da direita, segundo Sócrates] quando dizem que estão apenas a aplicar o que foi assinado no memorando pelo anterior governo. Este governo já aplicou o dobro da austeridade [prevista], com sete alterações ao memorando»
22:02 - «Ouve-se dizer que foi a troika que provocou essas alterações ao memorando, mas a decisão de somar mais austeridade foi do governo»
22:06 - «Paremos com mais austeridade (...) Paremos com esta loucura!»
22:13 - «Em 2009 vínhamos de três anos sem aumentos dos funcionários públicos. [Podia ter alterado?] É mais fácil dizê-lo agora do que na altura. Algum partido se opôs a isso? (...) É muito fácil falar depois. Manuela Ferreira Leite achou bem este aumento»
22:20 - «Não reconheço que tive uma política despesista»
22:26 - «os encargos líquidos com as PPP que eu deixei são menores do que aqueles que recebi»
22:28 - «eu nunca devia ter formado um governo minoritário, permanentemente acossado por uma Assembleia da República que só queria mais despesa»
22:30 - «Este governo tem um problema de comando político, tem hoje um desgaste e não vejo condições para desenvolver o que será necessário fazer»
22:32 - «Diz tudo de um governo se a sua principal lei, o OE, for chumbado duas vezes pelo Tribunal Constitucional»
22:37 - «Ao longo destes dois anos o Correio da Manhã fez-me uma campanha ignóbil, sobre a minha vida em Paris, basicamente insinuando que eu teria algum comportamento de que devíamos duvidar. (...) Pedi um empréstimo ao meu banco para ir estudar para Paris»
22:39 - «Só quem tem medo da democracia é que pode ter medo dos meus comentários»