O PS não teve maioria absoluta nestas legislativas. Com quem, ou com quantos, vai governar? Eis os quatro cenários possíveis.
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O PS não teve a maioria absoluta que nunca pediu, mas acabou por conseguir uma uma votação reforçada, o que lhe dá um poder negocial diferente. A questão passa por saber com quem? Ou com quantos? A nova arrumação de forças no Parlamento é uma espécie de cardápio que permite a António Costa negociar com vários partidos e tomar uma de duas decisões: ou fecha um acordo que lhe garanta a estabilidade durante quatro anos. Ou vai negociando, caso a caso, lei a lei, em função dos temas.
1º cenário: Geringonça 2.0
"Os portugueses gostaram da geringonça". O soundbyte que António Costa trouxe preparado para o discurso de vitória deixava antecipar um novo acordo com o PCP, com o PEV e com o Bloco de Esquerda. E, na verdade, esse é um dos cenários possíveis. O secretário-geral do PS anunciou que vai voltar a reunir com os partidos que suportaram o governo socialista nos últimos quatro anos e tentar chegar a um acordo, que não tem que ser necessariamente escrito. A conjugação dos deputados destes quatro partidos - ainda sem a emigração - é de 214 deputados, mais do que suficiente para uma maioria parlamentar.
2º cenário: PS com PCP e PEV, sem BE
Ao contrário do que aconteceu há quatro anos - em que o PS para poder governar precisava do BE e do PCP -, desta vez, não é preciso tanto. Os deputados socialistas e os comunistas chegam e sobram para fazer maioria no Parlamento. No discurso de reação aos resultados eleitorais de domingo à noite, Jerónimo de Sousa sublinhou que "não haverá repetição da cena do papel", mas não fechou a porta a um apoio ao Partido Socialista.
Para isso, o secretário-geral do PCP, coloca como condição "não permitir que o que se alcançou e conquistou em direitos e rendimentos volte para trás, que não se deem novos passos de retrocesso, quer na legislação laboral, quer no sistema eleitoral, quer nas chamadas "reformas" estruturais que PS e PSD partilham em diversas áreas".
Uma mensagem que António Costa registou. Na verdade, o PCP, com quem o líder socialista irá negociar, é hoje mais fraco do que aquele que encontrou em 2015 - na altura elegeram 17 deputados e agora não foram além dos 12. Ainda assim, PS e PCP juntos contabilizam 118 deputados. O que dá maioria.
3º cenário: PS com BE, sem PCP e PEV
Pode não ser o cenário mais provável, mas não é, de todo, impossível. O Bloco de Esquerda "entregou" um verdadeiro caderno reivindicativo ao Partido Socialista para "procurar uma solução de estabilidade que assuma a continuidade da reposição de direitos e rendimentos ao longo da legislatura, e isso deve estar refletido no programa de Governo que vier apresentar". Mas, Catarina Martins quis, claramente, manter outros cenários em aberto e, por isso, admitiu também a possibilidade de "realizar negociações ano a ano para cada orçamento".
PS e Bloco de Esquerda - sem a emigração ainda - contabilizam, neste momento, 125 deputados, bem acima dos 116 necessários para fazer maioria absoluta.
4º cenário: PS em minoria com a ajuda do PSD
É de todos o mais improvável, mas não é impossível. Se o PS governar em minoria, negociando caso a caso na Assembleia da República, o PSD pode ser o apoio de que os socialistas precisam sempre que a esquerda não estiver pelos ajustes. Já aconteceu na última legislatura e pode voltar a acontecer. É o próprio António Costa que não excluiu, no caso de inviabilidade de pontes à esquerda, a hipótese de procurar entendimentos com Rui Rio, com o objetivo de manter o "horizonte da legislatura".
Ainda no discurso de vitória, o líder socialista revelou que vai conversar com o PAN, que quadruplicou o número de deputados com que contou nos últimos quatro anos, e com o Livre, que chega pela primeira vez ao parlamento. No entanto, o PS só chega à maioria absoluta - 116 deputados ou mais - com o BE, com a CDU e com o PSD.