Ex-ministro e fundador do CDS morreu esta quinta-feira, aos 78 anos, vítima de uma doença oncológica.
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Diogo Freitas do Amaral, antigo presidente e fundador do CDS, morreu esta quinta-feira, vítima de uma doença oncológica. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, o líder do PSD, Rui Rio e a líder do CDS, Assunção Cristas, foram algumas das primeiras figuras políticas nacionais a reagir à morte.
O Presidente da República manifestou profundo pesar pela morte de Freitas do Amaral, que recordou como um dos "pais fundadores" do sistema político-democrático português e um grande amigo pessoal de meio século.
"O Presidente da República que, além do mais, perdeu um grande amigo pessoal de meio século, apresenta à sua família a expressão de grande saudade, mas, sobretudo, da gratidão nacional para o que foi o papel histórico de ter sido aquele dos pais fundadores a integrar a direita conservadora portuguesa na democracia constitucionalizada em 1976", lê-se numa nota publicada no site da Presidência.
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O primeiro-ministro, António Costa, por sua vez, também lamentou a morte do fundador e primeiro líder do CDS, Freitas do Amaral.
"Acabou de falecer um dos fundadores do nosso regime democrático. À memória do professor Freitas do Amaral, ilustre académico e distinto Estadista, curvamo-nos em sua homenagem. Apresentamos à sua família, amigos e admiradores as nossas sentidas condolências", refere uma nota do gabinete de António Costa.
Já presidente do PSD, Rui Rio, recordou Freitas do Amaral como "um aliado" nos momentos importantes do país, deixando-lhe "uma palavra de homenagem" durante um almoço de campanha. No arranque do seu discurso perante uma plateia de empresários, em Vila Nova de Gaia, no Porto, Rio disse ter acabado de receber "uma notícia triste", a da morte de Freitas do Amaral.
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"Queria deixar aqui uma palavra de homenagem ao professor Freitas do Amaral. Nem sempre o PSD esteve de acordo com ele ou ele de acordo com o PSD, mas nos momentos importantes do país e do PSD o professor Freitas do Amaral foi um aliado", afirmou Rui Rio.
No CDS, a notícia da morte de Freitas do Amaral, fundador do partido, foi recebida durante um almoço de campanha para as legislativas em Barcelos, Braga, e a líder centrista pediu aos militantes que cumprissem um minuto de silêncio. No almoço, Assunção Cristas evocou o passado de Diogo Freitas do Amaral, como fundador, e "a coragem" necessária para defender as ideias do partido no período pós-25 de Abril de 1974.
Primeiro, pediu que se interrompesse o almoço para anunciar, aos presentes, que Freitas do Amaral tinha morrido e pediu um minuto de silêncio. Cristas recordou o fundador - "a quem devemos a fundação do CDS" - e os tempos difíceis em foi criado o partido do Centro Democrático Social, juntamente com dirigentes como Adelino Amaro da Costa.
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"Eu, enquanto presidente do CDS, só posso estar grata por esse trabalho, por essa coragem, tantas vezes debaixo da ameaça, tantas vezes debaixo de fogo", disse.
Ferro Rodrigues, o presidente da Assembleia da República, afirmou esta quinta-feira que recebeu com "enorme consternação" a notícia da morte do antigo ministro Freitas do Amaral, "fundador do regime democrático" e cidadão com "grande dedicação" à causa pública.
"Fundador do nosso regime democrático, o professor Freitas do Amaral serviu Portugal e os portugueses em diversas ocasiões", considera Ferro Rodrigues, numa nota enviada à agência Lusa.
Durão Barroso recorreu ao Twitter para homenagear Freitas do Amaral. Recorda um "distinto académico" e lembra o seu peso como "um dos fundadores do sistema político-partidário português".
Os meus mais sentidos pêsames à família do Prof Diogo Freitas do Amaral , distinto académico e um dos fundadores do sistema político-partidário português
- José Manuel Barroso (@JMDBarroso) 3 de outubro de 2019
Dele recordo especialmente a presidência Assembleia Geral da ONU para cuja candidatura o convidei em nome do PM Cavaco Silva.
Ribeiro e Castro, antigo líder do CDS, recordou à TSF Diogo Freitas do Amaral como o fundador de um dos partidos históricos da democracia portuguesa.
"Teve um papel muito importante por causa disso, também como membro do Conselho de Estado antes de ter sido extinto no 11 de março e substituído pelo Conselho da Revolução", explicou Ribeiro e Castro.
Além do papel político, o ex-líder do CDS reconhece o mérito do fundador do partido também como "grande jurista", académico e professor universitário de méritos reconhecidos.
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"A sua carreira, nesse aspeto, foi prejudicada pelas incursões políticas e pelas interrupções a que isso forçou, mas além do percurso que teve na Faculdade de Direito de Lisboa, onde também me formei, foi o fundador da escola de Direito na Universidade Nova. Como escritor fez incursões pela história e pelo teatro. É um espírito muito rico e que marcou muito a história do CDS", afirmou o ex-líder do CDS.
Pedro Silva Pereira, eurodeputado socialista e membro do grupo diretor do Parlamento Europeu sobre o Brexit, afirmou que a morte de Freitas do Amaral é uma grande perda para o a academia nacional.
"Foi o melhor orientador da tese de Mestrado, é um professor extraordinário. Deixa uma obra notável, desde a área do Direito Administrativo até à Filosofia Política", recorda Pedro Silva Pereira.
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"Deverá ser recordado com saudade. Não é uma figura que possa ser apagada, nem da história da democracia portuguesa, nem da história do CDS, nem da história da nossa Academica. Prestou um serviço inestimável ao país", reconheceu.
O antigo ministro das Finanças António Bagão Félix afirmou que a morte do fundador do CDS-PP, Diogo Freitas do Amaral, é "uma grande perda para Portugal" num tempo em que "há escassez de estadistas" e excesso de políticos.
"É uma grande perda para Portugal, não apenas da pessoa em si, como da pessoa culta, bem profunda que era, do académico que era e do estadista. Este ponto é importante, porque hoje vivemos num tempo em que há escassez de estadistas e há excesso de políticos", vincou à agência Lusa Bagão Félix.
O Partido Comunista Português reconheceu Freitas do Amaral como uma das personalidades "mais marcantes da vida política portuguesa nas ultimas décadas" e um "notável académico".
"É conhecida a distância política que sempre separou Freitas do Amaral do PCP, mas é inequívoco que o professor Freitas do Amaral foi uma das personalidades políticas mais marcante da vida política portuguesa nas últimas décadas, quer como dirigente partidário, como membro do Governo e até no plano internacional como presidente da assembleia-geral das Nações Unidas", disse à agência Lusa o deputado do PCP António Filipe.
"Um homem bom, conciliador e um verdadeiro democrata." É assim que o deputado do CDS e cabeça de lista por Viseu, Hélder Amaral recorda Freitas do Amaral.
O deputado entrou no partido quando o CDS era presidido por Freitas do Amaral e dele recorda "um grande amor pelo país e pela democracia", sendo essa a maior marca que deixa na democracia portuguesa.
"A direita, na pessoa do Professor Freitas do Amaral, conseguiu fazer aquilo de que hoje todos nós nos orgulhamos: ser um país tolerante", destaca.
"Apesar de ser de direita e conservador, teve sempre a preocupação de ouvir e entender o próximo. Até ficou mal compreendido como sendo um pouco mole. Não confundam tolerância e capacidade de perceber o próximo com fraqueza", explica Hélder Amaral, recordando o que aprendeu com o fundador do CDS. "Já venceu a lei da morte."
António Filipe, deputado do PCP, reconhece que é "inevitável reconhecer que se tratar de uma das personalidades mais marcantes da vida política portuguesa nas últimas décadas".
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O deputado do PCP recorda Freitas do Amaral e a sua obra no plano nacional e internacional, tanto como "dirigente partidário, membro do Governo e candidato presidencial", como "presidente da Assembleia-Geral das Nações Unidas".
A vertente académica também não foi esquecida: "Um académico distintíssimo, um professor de Direito prestigiadíssimo."
Já Adriano Moreira, que integrou as listas do CDS em 1980 a convite de Freitas do Amaral, afirmou que o fundador do partido deixa duas memórias importantes na vida portuguesa: primeiro como universitário e depois, na vida pública, por trazido para Portugal a democracia-cristã.
"Nessa data era um movimento que, em França, na Alemanha e em Itália, conduzia a organização da Europa. Isso foi uma intervenção fundamental na mudança de regimes e na decisão de nos juntarmos à União Europeia", recorda à TSF Adriano Moreira.
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O antigo presidente do CDS recuou também à altura em que o fundador do partido chegou a ser candidato à Presidência da República e considera-o uma figura que fica na história portuguesa desta época.
"Era sempre de uma convivência muito humana. Ele praticava a regra de que o outro pode ser diferente, mas a dignidade é igual. Essa linha foi sempre muito importante para ele, nos lados políticos e nas orientações doutrinais que são muito frequentes nas áreas a que ele se dedicou", acrescentou o ex-presidente do CDS.
Noutro plano, Jorge Miranda, professor catedrático de Direito, recorda Freitas do Amaral como " um grande professor, com uma boa capacidade de relacionamento com os alunos, capacidade de comunicação, sentido de generosidade nos exames"
"Tinha também uma grande capacidade de trabalho, levando a produzir obras extremamente importantes, em particular o curso de direito administrativo em dois volumes. Deixa, portanto, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa um contributo extremamente importante", adianta Jorge Miranda em entrevista à TSF.
No mesmo plano, o embaixador Francisco Seixas da Costa, antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, fala na "coragem" que Freitas do Amaral teve para fundar "um movimento onde foi possível encontrar espaço para as pessoas que não se reviam na deriva socialista, social-democrata ou comunista que na altura prevalecia no espetro político português e trazer essas pessoas para o quadro da democracia".
Manuel Monteiro recorda homem de "coragem" que "se bateu pela democracia"
O antigo presidente do CDS Manuel Monteiro recorda Freitas do Amaral como um "fundador da democracia ocidental", um dos principais responsáveis pela "adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE)" e um homem que teve "coragem para votar contra a Constituição da República Portuguesa de 1976".
Em entrevista à TSF, Manuel Monteiro começa por contar que tinha 12 anos quando aconteceu o 25 de Abril de 1974 e lembra tempos em que "se oscilou entre a possibilidade de termos uma democracia como aquela que temos do tipo ocidental e um regime muito próximo de Cuba".
"Freitas do Amaral é inquestionavelmente uma das figuras que mais se bateu para que tivéssemos a democracia que hoje temos", assegura.
No mesmo plano, Manuel Monteiro sublinha o papel de Freitas do Amaral na a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia: "Mário Soares teve um papel indiscutível nessa questão, mas a verdade é que Freitas do Amaral que era presidente da União Europeia das Democracias Cristãs muito trabalhou para que Portugal pudesse ser aceite na então Comunidade Económica Europeia."
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A nível interno, Manuel Monteiro recorda que Freitas do Amaral teve "coragem para votar contra a Constituição da República Portuguesa de 1976" que "afastava Portugal da Europa, que afastava Portugal das democracias ocidentais".
"Freitas do Amaral teve coragem física até, porque as pessoas esquecem-se que aqueles tempos eram tempos muito difíceis em que quem andava com autocolantes do CDS ou da juventude centrista no caderno ou na lapela - e nessa época as pessoas davam a cara pelos partidos a que pertenciam e aos quais aderiam - era um risco para a saúde", remata.
Em declarações à RTP, José Sócrates reagiu à morte de Diogo Freitas do Amaral, recordando-o como uma figura com "raras qualidades". O ex-primeiro-ministro teve um papel importante na vida do fundador do CDS porque foi com a entrada para o primeiro Governo socialista de Sócrates, como ministro dos Negócios Estrangeiros, que Freitas do Amaral viria a selar o divórcio com a sua família política, à direita, em Portugal e na Europa.
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"Sempre testemunhei as suas raras qualidades, não apenas de inteligência mas também de cultura política. Essa cultura humanística influenciou o projeto europeu, que foi sempre a orientação que seguiu em toda a sua longa carreira política", recordou José Sócrates em declarações à RTP.
Catarina Martins enaltece convergência
Apesar dos "polos políticos muito diferentes", Catarina Martins recorda as "convergências" com Freitas do Amaral. A coordenadora do Bloco de Esquerda enviou as condolências à família de Freitas do Amaral e destacou que, apesar de estarem em campos opostos na política, houve convergência em algumas questões.
"Assinalo a denúncia da guerra do Iraque, a necessidade de reestruturar a dívida pública e, mais recentemente, a necessidade de denunciar o Governo de Bolsonaro como extrema-direita e o perigo que é", explicou Catarina Martins.
Sublinhadas as convergências que marcavam uma convivência em "polos políticos muito diferentes", a líder bloquista destacou que é "sempre bom saber que há momentos em que pessoas com posicionamentos diferentes podem estar juntas em questões tão essenciais como os direitos humanos ou a paz".