Associação algarvia leva jovens com deficiência a viajar de barco: como velejar é ser solidário
O projeto Vela Solidária, da Associação Teia d'Impulsos, realiza esta atividade ao longo do ano, com mais intensidade no verão, dirigida a jovens com e sem diversidade funcional, mediante alguns protocolos com as escolas
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Começam a puxar-se os cabos e a preparar o barco. O veleiro vai largar amarras da Marina de Portimão e seguir para a barra entre o Rio Arade e o mar. Para o capitão e as monitoras, embarcar os tripulantes não foi fácil. São cinco jovens portadores de deficiência que vão participar no projeto Vela Solidária, uma iniciativa da Teia d'Impulsos, uma associação sediada em Portimão.
Joana é das meninas mais impacientes. Antes de entrar para o barco chora e mostra-se agitada. Mas ao entrar no veleiro, o seu comportamento transforma-se. “É um sítio onde ela fica completamente relaxada” explica a monitora. ”A Joana tem algumas dificuldades em lidar com a frustração. Mas quando a metemos dentro de um barco acalma completamente”, adianta Inês Reis. ”Então com os pezinhos dentro de água, é o sítio preferido dela”, acrescenta a sorrir.
O projeto Vela Solidária realiza esta atividade ao longo do ano, com mais intensidade no verão, dirigida a jovens com e sem diversidade funcional, mediante alguns protocolos com as escolas. “Não temos nenhuma expectativa que eles venham a ser grandes navegadores”, explica Luís Brito, o presidente da associação e o velejador desta embarcação. “Mas temos muitas expectativas relativamente às competências que eles desenvolvem, navegando aqui connosco, para perderem o medo, sentirem-se à vontade num barco, que é um elemento muito instável, e, além disso, desenvolverem pequenas competências, como o agarrar [os cabos], o soltar, o estarem focados alguns segundos num objetivo”, afirma.
Tenta incentivar uma rapariga que se mostra mais preguiçosa. “Ó Bia, tu sabes trabalhar. Quando o Luís disser puxa, agora puxa, não é desse lado, é do outro”, atira. Hoje o vento está forte, mas os velejadores aguentam-se. ”Está aqui uma boa suestada, com 15 a 20 nós de vento”, afirma o velejador. Conta que ainda pensou desistir da atividade agendada neste dia, mas considerou que havia condições seguras para ir para o mar e não quis frustrar as expectativas dos jovens que aguardavam por esta atividade há tanto tempo. “Isto hoje está muito vento, miúdos”, grita-lhes, mas os rostos felizes não mostram qualquer receio.
A monitora Inês incentiva outro jovem, o Afonso, a dizer o que já aprendeu. Pergunta-lhe como se chamam os instrumentos do barco. “Isto é o quê?”, questiona-o. “É o leme”, responde o rapaz. “E como se chama a parte de trás do barco?”, continua. “É a popa”, responde ele. “Boa, já ganhaste”, dizem-lhe, ao mesmo tempo, a monitora e o velejador. E o rosto de alegria do Afonso diz tudo.