Associação de Apoio ao Recluso acusa guardas de provocarem motins para chamar atenção para a falta de segurança
Os reclusos dos estabelecimentos prisionais de Lisboa e Linhó estão revoltados com os constrangimentos provocados pela greve dos guardas prisionais. Mas estes profissionais rejeitam qualquer culpa
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O secretário-geral da Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso, Vítor Ilharco, acusa na TSF os guardas prisionais de tentar "que os presos se revoltem", para chamar a atenção do problema da falta de segurança nas prisões. Pede aos reclusos do Estabelecimento Prisional de Lisboa que não se rebelem, sob risco de caírem na "armadilha" criada pelos guardas prisionais.
O jornal Correio da Manhã dá conta de relatos de protestos dos reclusos, devido às restrições impostas durante a greve dos guardas prisionais. O bar do estabelecimento prisional foi assaltado, depois de ter sido arrombada a porta, e um recluso incendiou um colchão numa cela. Esta semana, uma série de reclusos tentou convencer os restantes a faltar ao jantar, mas sem sucesso.
Vítor Ilharco explica à TSF que, devido à greve, os prisioneiros veem-se a braços com uma série de restrições: "O número de visitas semanais passou de duas para uma, a greve impede que a família traga roupa lavada e leve a roupa suja, e como também não podem lavar na cadeia, quer dizer que podem andar meses seguidos com roupa que não está em condições, o que pode provocar doenças complicadas por falta de higiene, também não deixam entrar o quilo de comida que as famílias costumam levar e agora, para cúmulo, abrem as celas de manhã e deixam-nas assim todo o dia, até o encerramento noturno. Os reclusos não podem ir para o pátio, não podem ir à visita, não podem ir trabalhar com receio de que as celas sejam roubadas."
O secretário-geral da Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso lamenta que a falta de condições nos estabelecimentos prisionais de Lisboa e de Linhó (Sintra) se arraste há vários meses, mas pede aos prisioneiros que não se deixem levar pela revolta.
Para os guardas, estar em greve tanto tempo não traz prejuízo nenhum porque continuam a receber o ordenado por inteiro. À tutela também não prejudica nada porque a vida continua, só os reclusos é que sentem as consequências na pele
Vítor Ilharco defende que está na altura de a tutela ouvir os guardas prisionais, mas, até lá, pede aos reclusos "que não caiam nesta armadilha que os guardas prisionais estão a fazer, a levar a que os presos se revoltem, para ficarem eles com o ónus de todos estes problemas" nas prisões.
Por sua vez, Frederico Morais, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, rejeita, em declarações à TSF, as acusações e garante que a greve não pretende ser uma provocação para os reclusos.
"É completamente mentira. A greve está marcada por questões de segurança, até dos próprios reclusos, porque, sem vigilância de um guarda prisional, a própria vida do recluso está posta em causa e os guardas prisionais não conseguem neste momento com a limitação e com a falta de efetivos dar conta. Mas não precisamos de reclusos para chamar a atenção", destaca Frederico Morais.
O presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional sublinha que a revolta dos prisioneiros advém também da falta de condições do estabelecimento prisional, porque "há cerca de 400 reclusos a mais do que a capacidade total da prisão e uma falta enorme de guardas prisionais".
Frederico Morais dá o exemplo de momentos em que um só guarda fica responsável pela segurança de quase 200 reclusos. O sindicalista denuncia ainda as recentes decisões da diretora do estabelecimento prisional de Lisboa, que causaram revolta entre os prisioneiros: "Na reunião onde os nossos representantes estiveram presentes, foi sugerido à diretora que permitisse as visitas todas à segunda e à terça, visto que a cadeia não está em greve à segunda e à terça, só de quarta a domingo, mas a diretora achou que não."