A Associação Portuguesa de Insuficientes Renais exigiu hoje um pedido de desculpas à ex-líder do PSD, que sugeriu que idosos que tenham meios paguem os tratamentos de hemodiálise.
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«Actualmente temos dez mil doentes em hemodiálise cuja idade média é 68 anos. A doença renal atinge mais as pessoas com baixos e médios rendimentos. Não vemos milionários a fazer diálise. Esta senhora não tem informação para dizer uma coisa destas», afirmou Carlos Silva em declarações à Lusa.
A APIR «exige um pedido de desculpas» à ex-ministra e líder social-democrata, que «devia preocupar-se com quem são os donos das clínicas [onde se faz hemodiálise], porque é que está tudo no privado e porque é que o Estado não mete a hemodiálise nos hospitais públicos», acrescentou.
Respondendo a uma questão sobre o direito de pessoas com mais de 70 anos à hemodiálise gratuita através do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Manuela Ferreira Leite disse, segunda-feira à noite na SIC, que um doente «tem sempre direito se pagar».
A ex-líder social-democrata acrescentou que não é possível manter o SNS «gratuito para toda a gente», clarificando depois que defende que quem tem meios financeiros para isso pague os seus tratamentos.
Contactada pela TSF, a antiga ministra da Saúde, Ana Jorge, comentou estas declarações, considerando que «o que ela [Ferreira Leite] estaria a falar é de racionar e não racionalizar», acrescentando que 'esse é um problema que coloca questões éticas profundas».
«Acho que há [nessas declarações] alguma componente do ponto de vista da sua ideologia política, mas penso que o que foi transmitido foi a opinião pessoal de Manuela Ferreira Leite, que é perfeitamente justa. E é bom que venham essas opiniões e esses conceitos para a discussão pública porque só da discussão dos diferentes aspectos e das diferentes opiniões, se pode construir uma sociedade mais esclarecida para poder decidir», frisou.
Sobre a opinião de Ferreira Leite sobre o pagamento dos tratamentos de hemodiálise, Ana Jorge considera que «não é comportável os doentes pagarem os tratamentos completos da hemodiálise, que é muito cara quer no serviço público, quer no serviço privado».
«Nós temos uma situação em Portugal que considero gravíssima, e que eu própria enquanto responsável do Ministério da Saúde não consegui mudar, que é ter no sector privado praticamente toda a concessão da hemodiálise crónica», lembrou Ana Jorge.