Associação de Praças acusa cúpula das Forças Armadas de desconhecer o "que se passa na base"
O líder da Associação de Praças sublinha que além do desinvestimento em material existe um desinvestimento em recursos humanos.
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A Associação de Praças tem dúvidas sobre o plano para a profissionalização do serviço militar, que foi anunciado em 2019, mas que não teve grandes avanços até ao final da pandemia. No ano passado, o Ministério da Defesa anunciou uma comissão coordenadora de implementação do referido plano.
Em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, a ministra Helena Carreiras afirmou que o plano está a avançar e que vai avançar ainda mais rápido agora, na medida em que foi concluída a revisão desse plano. Mas Paulo Amaral, líder da Associação de Praças, "tem dúvidas sobre o cumprimento desse plano de ação para a profissionalização do serviço militar, porque a senhora ministra foca muito a questão da retenção, e que vamos trabalhar para conseguir reter [as pessoas]. Mas quando nós olhamos para aquele plano, e mais, quando nós vemos, porque estamos nas unidades e sentimos isso na pele, que não existe qualquer medida concreta para conseguir que os jovens não abandonem as fileiras, isso é que nos deixa extremamente preocupados. A Associação de Praças foi chamada duas vezes para reuniões com a Sr.ª Ministra por causa deste plano, ficámos extremamente desiludido com a constituição da comissão de implementação deste plano. Mais uma vez o gabinete da senhora ministra não cumpriu a lei orgânica n.º3 de 2001".
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Paulo Amaral acusa a comissão coordenadora de implementação do plano de ter pouco conhecimento do que se passa nos quartéis.
"Esta comissão coordenadora de implementação do plano é composta por dois senhores doutores e por cinco oficiais generais. O que é que nós temos aqui? Nós temos aqui a cúpula das Forças Armadas a trabalhar. Mas essa cúpula das Forças Armadas desconhece na totalidade aquilo que se passa na base. Eu, que estou ainda no ativo, estou todos os dias nas unidades militares, vejo exatamente o contrário aquilo que é dito e afirmado em várias ocasiões, nomeadamente aquilo que a Sr.ª Ministra referiu, em relação ao serviço militar obrigatório. Ela referiu que os jovens esperam das Forças Armadas, não apenas a questão material, mas sim a camaradagem e o espírito de corpo. Vão-me desculpar, a camaradagem e o espírito de corpo, neste momento, nas Forças Armadas, está muito deficitária", alerta o presidente da Associação de Praças.
Na entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, a Ministra da Defesa reconheceu que existe falta de material de guerra, que muito do material que existe precisa de manutenção e que grande parte do orçamento da defesa vai exatamente para a manutenção e para a reposição das reservas de guerra. Paulo Amaral afirma que, além do desinvestimento em equipamento, há um grande desinvestimento em recursos humanos.
"Tem havido um desinvestimento total em todas as áreas das Forças Armadas, tanto no material, como nos homens e nas mulheres que prestam serviço. Se nós desinvestimos naquilo que é a força principal, a força motriz de uma instituição como as Forças Armadas, que são os homens e as mulheres, logicamente que também se desinveste no material. Se não há homens e mulheres para trabalhar, o material, obrigatoriamente, tem de ficar depauperado, ao longo dos tempos. Não existe dinheiro para a manutenção do material porque também não existe dinheiro para valorizar as carreiras dos militares e a tabela remuneratória dos militares", acusa Paulo Amaral, presidente da Associação de Praças.