Associação pede "condenação" de Ventura e "respeito" pela comunidade cigana: "Após as eleições, uma criança foi alvo de bullying"
À TSF, o dirigente da Letras Nómadas - Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas pede sensatez aos deputados eleitos para que o país possa "continuar a respirar este ar de liberdade". O movimento está ainda a avaliar outras possíveis queixas
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A Letras Nómadas - Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas espera que se possa "fazer justiça" e que André Ventura seja condenado pela difusão de "discurso de ódio" contra a comunidade cigana. O movimento alerta que, depois das eleições legislativas de domingo, há relatos de crianças vítimas de bullying.
Depois das queixas de dez associações, o Ministério Público abriu um inquérito aos vídeos publicados por André Ventura nas redes sociais, que mostram o líder do Chega a insultar a comunidade cigana. Contactado pela TSF, o partido de extrema-direita responde que, oficialmente, ainda não sabe nada em relação a este assunto.
A Associação Letras Nómadas espera agora que deste processo possa surgir uma "condenação", seguindo os pressupostos do Código Penal. Em declarações à TSF, Bruno Gonçalves, dirigente do movimento, sublinha que, quando o discurso afeta o "quotidiano de determinados grupos", a liberdade de expressão "tem de ter limites".
Esperamos que se faça essa justiça e que possamos colocar alguns limites ao que muito se fala e propaga na nossa sociedade
Bruno Gonçalves ressalva ainda que estão igualmente a ser avaliadas outras possíveis queixas em relação a outros vídeos, de outras pessoas, durante a campanha eleitoral. Algumas estarão relacionadas com conteúdo difundido pelo Chega, mas "outros partidos" também estão na mira: "Foram flagrantes discursos de ódio, que não podemos deixar passar."
A perseguição à comunidade cigana tem aumentando depois das eleições legislativas de domingo, que colocaram o Chega com o mesmo número de deputados do PS, numa altura em que estão ainda por contabilizar os votos da emigração, e até as crianças têm sido alvo de discriminação.
Ontem recebemos uma notícia de uma criança numa região alentejana que na escola, após as eleições, foi alvo de bullying: os companheiros gritavam 'Chega, Chega' nos recreios e na sala de aula. Até que pontos nós chegamos. Isto não pode acontecer. Este discurso de ódio até já está a ser alimentado pelas próprias crianças e jovens. Temos de colocar um stop
O dirigente da Associação Letras Nómadas pede apenas "respeito" pela comunidade, apelando para que não se façam "generalizações" por "comportamentos de alguns".
"Nós somos deste país. Não viemos, somos daqui. E queremos respeito", vinca.
Para Bruno Gonçalves, cabe agora a cada cidadão a luta pela democracia e esse é um papel que diz, desde logo, respeito aos restantes partidos.
"Devo ser eu e muito a gente a temer pela democracia. O 25 de Abril não foi exaustivamente lecionado. Todos temos o dever de lutar e esperar que os nossos políticos sejam sensatos para continuarmos a respirar este ar de liberdade", atira.