No dia de finados e de luto nacional pelas vítimas da pandemia, a APELO recomenda a colocação de uma vela, flores ou fita de cetim à janela como forma de homenagem comunitária aos que morreram.
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Na impossibilidade de muitos cidadãos visitarem, esta segunda-feira, os cemitérios, a Associação do Apoio à Pessoa em Luto (APELO) lançou uma campanha sugerindo que as famílias prestem homenagem aos entes queridos colocando nas janelas de casa flores, velas ou uma fita de cetim.
"Aquilo que iríamos fazer ao cemitério, façamos em casa à janela", resume o presidente e fundador da APELO. José Eduardo Rebelo sublinha a importância de "manter a proximidade de quem amamos de forma comunitária", porque estes rituais "são muito importantes para o luto".
Apesar de o luto ser "um ato exclusivamente pessoal, que se vive de forma solitária", o fundador da APELO lembra que "os rituais comunitários ajudam-nos a normalizar a solidão" e a "suavizar a dor" e sentimentos como raiva, culpa, tristeza e depressão que se vivem no processo de luto.
Numa situação de pandemia como a que atravessamos, José Eduardo Rebelo explica que o luto continua a ser individual, mas a sua expressão "é mais fácil" porque "existe uma causa comum que causa mortes" e que "toda a comunidade está a vivenciar".
Questionado sobre o impacto dos óbitos que têm ocorrido nos lares sobre os idosos que lá vivem e que, de um momento para o outro, perdem vários amigos, José Eduardo Rebelo considera que, apesar de haver dor pelas perdas, os idosos são capazes de "superar esta contrariedade" porque já têm "muita experiência" em lidar com a morte. "Quando chegamos aos 80 ou 90 anos, às vezes já nos morreu toda a gente que estava à nossa volta, amigos e familiares. A morte faz parte do nosso quotidiano, já não é o elemento excecional", explica.
Apesar desta pandemia "ímpar e única em mais de 100 anos", o presidente da APELO confessa que não registou aumento dos pedidos de ajuda feitos a esta associação, que fundou em 2004, depois de ter perdido a mulher e as filhas num acidente de viação. Biólogo na Universidade de Aveiro, José Eduardo Rebelo tem-se dedicado ao estudo e investigação do luto em Portugal, tendo também fundado o Observatório do Luto Portugal, a Sociedade Portuguesa de Estudo e Intervenção no Luto e o Espaço do Luto, onde são formados especialistas (psicólogos e outros) para darem apoio a quem precisa de lidar com o luto.