Associações e Ordem dos Médicos dizem que Pizarro e direção executiva fizeram "muito pouco" pelo SNS
A Ordem dos Médicos e as várias associações ouvidas no Fórum TSF destacaram a falta de profissionais com grande preocupação.
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Enquanto o ministro da Saúde anda no terreno em mais uma iniciativa Saúde Aberta, para ouvir utentes, profissionais de saúde e autarcas, o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, André Biscaia, destacou no Fórum TSF que um dos grandes problemas do Serviço Nacional de Saúde passa pela falta de médicos de família.
"As equipas dos cuidados de saúde primários têm poucos psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, mas existem no mercado, tal como existem médicos, enfermeiros e secretários clínicos. Agora temos é de ter capacidade para os atrair. O Estado tem achado que uma política de recrutamento é só afixar o edital de recrutamento e continuam, ano após ano, a fazê-lo de um modo atrasado. As pessoas saem com a especialidade e, neste momento, ainda não existe um recrutamento para o Estado, mas no estrangeiro e no privado já estão em ação", explicou à TSF André Biscaia.
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Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, também destacou a falta de profissionais com grande preocupação.
"Estamos a andar mais devagar do que aquilo que gostaríamos por um problema que é transversal neste momento ao Serviço Nacional de Saúde, que é a questão dos recursos humanos. Há uma grande dificuldade em reter, captar e manter profissionais no SNS, nomeadamente, naquilo que me diz respeito, ao nível dos médicos de família. É essa incapacidade que temos em ter profissionais valorizados, respeitados e contentes com as suas condições de trabalho que depois faz com que tenhamos todos estes relatos e dificuldades que sentimos no dia a dia, quer utentes, quer médicos, enfermeiros e todos os outros profissionais de saúde", afirmou Nuno Jacinto.
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Para o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, há problemas crónicos no SNS que se mantêm, como o desinvestimento e a falta de planeamento, e considera que ainda é cedo para avaliar o trabalho do ministro da Saúde e dos diretores executivos do SNS. No entanto defende que no caso das urgências está tudo na mesma.
"Ainda é muito pouco, mas tenho de constatar que na área da ginecologia obstetrícia, por exemplo, que foi um problema que apareceu há quase um ano, temos exatamente o que tínhamos há um ano. E o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, veio anunciar que se ia manter exatamente a mesma fórmula que tínhamos há um ano", recordou Carlos Cortes.
O bastonário deixa ainda o recado para o ministro da Saúde: é necessário ter medidas concretas e não apenas palavras.
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"Temos de ter medidas concretas, não só promessas ou palavras. É isso que penso que é necessário para o Serviço Nacional de Saúde. Passamos os dias a ouvir falar de promessas, projetos, mas pouco se concretiza e é isso que este ministro da Saúde, que está há seis meses, bem como o diretor executivo, vão ter de mostrar ao país. Todos os diagnósticos já estão feitos, são conhecidos. Sabemos quais são as dificuldades. O que queremos neste momento é que haja ação, intervenção e uma mudança necessária para o Serviço Nacional de Saúde", defendeu o bastonário da Ordem dos Médicos.
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Já Xavier Barreto, presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, acredita que há mudanças positivas no SNS e dá exemplos.
"Há uma mudança na organização do Serviço Nacional de Saúde. Há uma clara aposta numa maior integração de cuidados com a criação das unidades locais de saúde, mas tem de haver uma mudança na própria governação do próprio SNS. Repare que, pela primeira vez, os contratos programa dos hospitais foram assinados até ao final do ano passado. Isto nunca tinha acontecido e, de facto, aconteceu muito por força e empenho da direção executiva, é preciso que isso se diga de uma forma muito clara. Por outro lado há uma aposta na aprovação dos planos de atividade de orçamento. Há pelo menos um que já foi aprovado na semana passada e estes planos são importantes porque devolvem autonomia aos hospitais", apontou Xavier Barreto.
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Apesar disso, Xavier Barreto considera que se continua a falhar na valorização das pessoas e, sem isso, não se consegue captar profissionais.
"Não há uma solução concreta, neste momento, por parte da tutela, por parte do Ministério da Saúde, de valorização das pessoas. Com a inflação que temos neste momento e os salários que os profissionais têm - salários iguais para todos independentemente do seu desempenho -, não é uma situação que nos permita concorrer e reter os melhores profissionais no Serviço Nacional de Saúde", considera o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares.
Quem também fez uma avaliação muito crítica do estado do Serviço Nacional de Saúde foi Hélder Sousa Silva, do PSD e presidente da Câmara de Mafra.
"Como dizia a poetisa Sophia de Mello Breyner, vemos, ouvimos e lemos, por isso não podemos ignorar. O meu balanço não é positivo, tem sido um descalabro ao longo dos últimos anos que culmina naquilo que é o pré-colapso do SNS", afirmou Hélder Sousa Silva.
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Ainda no Fórum TSF, Vítor Proença, presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, eleito pela CDU, defendeu que o que mais se tem visto com o ministro da Saúde e a direção executiva do SNS são encerramentos.
"A conversa é muita, a propaganda é imensa, mas a verdade é que foi criada a nova estrutura do Serviço Nacional de Saúde, com uma direção executiva e automaticamente passou a acontecer um conjunto de encerramentos de urgências e de serviços como nunca se tinha visto. Isto é, de facto, assinalável. É a imagem de marca", acrescentou Vítor Proença.
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