Associações recebem queixas de pessoas que estão a sofrer cortes em apoios sociais
A Associação Nacional dos Cuidadores informais e o Movimento Cidadão Diferente denunciam que as pessoas estão a perder apoios, porque a Segurança Social está a incluir as prestações sociais por deficiência, por dependência e por encargos com rendimentos, sem que tenha havido qualquer alteração
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A Associação Nacional dos Cuidadores informais e o Movimento Cidadão Diferente estão a ser contactados por centenas de pessoas que se queixam que o Estado está a cortar apoios sociais a quem recebe subsídio de cuidador ou por deficiência.
De acordo com o Jornal de Notícias desta segunda-feira, a Associação e o Movimento denunciaram que as pessoas estão a perder apoios, por a Segurança Social estar a incluir as prestações sociais por deficiência, por dependência e por encargos com rendimentos, sem que tenha havido qualquer alteração.
O Movimento Cidadão Diferente (MCD) disse num comunicado divulgado em julho na rede social Facebook, que “vários cuidadores informais têm visto os seus escalões do abono de família alterados para [níveis] menos favoráveis, porque a Segurança Social está a considerar o subsídio do cuidador informal principal como rendimento de trabalho dependente”.
Esta situação não é nova, mas, em declarações à TSF, Miguel Azevedo, coordenador do Movimento Cidadão Diferente, revela que tem recebido cada vez mais queixas.
"Com o aproximar do início do ano letivo, aqueles que têm crianças a cargo e que têm abono de família já não estão a ser consideradas no mesmo escalão de ação social. As pessoas ficam um bocadinho estupefactas porque quando chegam à escola sempre tiveram esse benefício e agora não o têm", explica à TSF Miguel Azevedo, que critica a falta de respostas do Estado.
"Pedimos explicações ao Governo, tanto à Segurança Social, como ao Ministério das Finanças. Da parte da Segurança Social, não obtivemos resposta, da parte do Ministério e da Direção-Geral de Finanças, obtivemos o feedback de que iriam responder, mas até agora ainda não obtivemos qualquer tipo de resposta", acrescenta.
Segundo o MCD, o mesmo está a acontecer com o seguro social voluntário, pago pelos cuidadores para assegurarem a reforma “porque a Segurança Social o interpreta como sinal de rendimento declarado”.
O Movimento invoca a lei n.º 100 de 06 de setembro de 2019 que diz que “o subsídio de apoio ao cuidador informal principal constitui uma prestação social de natureza não contributiva, atribuída pela Segurança Social”.
O Código do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares cujo artigo 12.B exclui expressamente da tributação as prestações sociais atribuídas em situações de carência económica, deficiência, dependência ou outras condições de fragilidade social”.
Por isso, segundo o MCD citado pelo jornal, não podem ser incluídas na declaração anual de rendimentos.
Também a Associação Nacional dos Cuidadores Informais (ANCI) diz ter recebido um “elevado número de queixas”, sublinhando “não entender qual o suporte legal”.
Esta situação também deixa indignada a vice-presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais. Também ouvida pela TSF, Maria dos Anjos Catapirra explica que as famílias estão a ser muito prejudicadas.
"Pagam mais valor quando estão a pedir apoio domiciliário e quando estão a pôr os familiares em centros de dia, porque os cálculos do rendimento, como é óbvio, estão a aumentar. Pôr mais 475 euros como sendo um rendimento, chega ao fim do ano, tem havido pessoas que se queixam que os filhos que estão na escola perderam abono de família, porque passaram a outros escalões", afirma. Por isso, a vice-presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais pede uma resposta rápida do Governo.
"Já consultámos tudo o que é legislação e não vemos nada de suporte relativamente a estes casos. Portanto, se existe que os clarifiquem e, se efetivamente existe, é bom que retifiquem, porque as pessoas já têm dificuldades financeiras, têm uma pessoa para cuidar, a seguir vão inventar rendimentos para depois ainda terem menos benefícios", lamenta.
“Pelo elevado número de queixas ficamos com a sensação de que houve uma diretriz superior para os serviços da Segurança Social, que fez com que os técnicos passassem a seguir essas indicações. Nem que tenha sido uma circular interna enviada para os centros distritais”, disse a presidente da ANCI, Liliana Gonçalves ao Jornal de Notícias.
Contactada pelo jornal, fonte do Ministério das Finanças assegurou que o subsídio de apoio ao cuidador informal, o complemento por dependência e o seguro social voluntário, não se encontram sujeitos a IRS.
