Ativistas criticam "atrapalhação invulgar" de Marcelo ao falar do Bairro da Jamaica
Centenas de manifestantes reuniram-se, na tarde desta sexta-feira, em frente à Câmara Municipal do Seixal.
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Foram pouco mais de uma centena as pessoas que na tarde desta sexta-feira se manifestaram junto à Câmara Municipal do Seixal sob o lema "Nem menos, nem mais, queremos direitos iguais. Racismo nunca mais".
A manifestação pela justiça e fim da violência policial surgiu dias depois de uma série de confrontos entre a PSP e os moradores do Bairro da Jamaica. Durante esta ação, um dos organizadores reforçou que houve um "excesso" por parte das forças de segurança durante essa mesma ação policial. Além deste episódio, o mesmo organizador lamentou ainda todos os outros casos de abuso por parte da polícia em todo o país.
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Também a polícia marcou presença nesta ação de protesto, onde colocou dezenas de carros e motas, bem como vários agentes. No interior do espaço destinado ao protesto, ladeado por grades metálicas, eram vários os manifestantes que faziam uso da palavra, apelando ao fim do racismo por parte da polícia e recordando episódios passados no Bairro da Jamaica e Cova da Moura. A presença de Mário Machado na TVI, no início deste mês, foi também recordada.
Uma das entidades presentes nesta ação foi o Colectivo Consciência Negra, representado por José Pereira que, em declarações à repórter TSF Ana Sofia Freitas, deixou críticas à atitude de Marcelo Rebelo de Sousa perante a problemática do racismo e, em particular, à forma como lidou com o episódio recente no Bairro da Jamaica.
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Questionado, na manhã desta sexta-feira, sobre se já tinha ido ao Bairro da Jamaica, o Presidente da República apresentou, segundo José Pereira, uma "atrapalhação invulgar para uma pessoa com o traquejo" que tem. "A situação que se quer denunciar é - simbolicamente - a falta de conforto que ele deu e que está a demorar a dar às vítimas de violência policial."
As críticas do ativista referem-se às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa proferidas esta manhã, sobre uma possível visita ao bairro. "Não é uma impossibilidade lá ir, mais dia, menos dia, como tenho estado em inúmeros bairros na Área Metropolitana de Lisboa e do Porto", dizia o chefe de Estado, reafirmando que não se deve generalizar incidentes como o de domingo, porque há "factos singulares que merecem investigação e responsabilização, nomeadamente criminal", que deve ser feita, "quanto mais rápido melhor".
No ótica do ativista, Marcelo Rebelo de Sousa tem "alguma responsabilidade, nem que seja simbólica" sobre o que se passa na Polícia de Segurança Pública e, também por isso, já deveria ter ido ao Bairro da Jamaica. Além da situação específica deste bairro, José Pereira lembrou as várias violências de que "todos os negros e negras que vivem em Portugal são vítimas. A questão da violência policial racista, mas também do trabalho, da nacionalidade que não foi alterada e que remete muitos dos nascidos em Portugal - depois de 1981, filhos e filhas de estrangeiros - para uma situação de imigrantes no seu próprio país, as questões do trabalho com direitos e habitação com direitos."
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