Atraso na classificação como património ameaça despejo de Repúblicas de Coimbra
Residências de estudantes centenárias estão em risco de fechar portas.
Corpo do artigo
A especulação imobiliária e o atraso na classificação das Repúblicas de Coimbra como entidades de interesse histórico e cultural está a causar constrangimentos nas casas centenárias que acolhem os estudantes da Universidade de Coimbra. Algumas, como é o caso da República dos Fantasmas e da República do Rapó-Taxo, estão já com propostas imobiliárias de venda, o que poderá levar à saída dos estudantes a curto prazo.
Ontem mesmo, o assunto foi levado à discussão na Assembleia Municipal de Coimbra, pelas várias bancadas da oposição a acusar a Câmara Municipal de esquecimento, distração e inércia nesta questão.
Um plenário onde estiveram presentes elementos da República dos Fantasmas que está à venda há três anos. O que mudou agora foi que apareceu comprador.
TSF\audio\2018\03\noticias\02\miguel_midoes_rep_republicas_de_coimbra_e_especulacao_imobiliaria
A classificação das Repúblicas como Património Municipal podia ter acontecido até ao último dia do ano passado. Não aconteceu. A lei 42/2017 permite reconhecer e proteger os estabelecimentos e entidades de interesse histórico, cultural ou social.
As Repúblicas, que sustentaram a candidatura da Universidade de Coimbra a património mundial da humanidade ficaram de fora.
E a necessidade de reconhecimento das Repúblicas como património histórico e cultural de Coimbra parece reunir consenso junto das restantes forças políticas.
Pinto Ângelo, da CDU de Coimbra, considera que não há tempo a perder para tomar medidas nesta área. Serafim Duarte, do Movimento Cidadãos Por Coimbra, defende que a solução deve ir além do reconhecimento das Repúblicas, e sugeriu que a Câmara deveria comprar alguns edifícios onde estas estão instaladas.
Comensal durante três anos numa das Repúblicas de Coimbra, o deputado municipal do PSD, Nuno Freitas, refere que a esquerda deve às Repúblicas muito do seu património ideológico. E mesmo reconhecendo esta tendência política das Repúblicas, quis dar as mãos às restantes bancadas na defesa deste património cultural.
Manuel Machado, presidente da CM de Coimbra, deixa a porta meio aberta sublinhando a importância de reconhecer as Repúblicas como património, mas ressalva que o assunto tem de ser analisado caso a caso. Manuel Machado diz que há Repúblicas que não estão registadas e que, por isso, não poderão ser consideradas.
No final da discussão, a Assembleia Municipal de Coimbra acabou por aprovar por unanimidade, sem abstenções e sem votos contra, o reconhecimento das Repúblicas de Coimbra como património de interesse histórico, cultural e social.
O tema vai ainda a reunião da Câmara Municipal na próxima segunda-feira.