Atrasos na linha 112 provocam duas mortes: "A responsabilidade é, sobretudo, do Estado"
Rui Lázaro antecipa, na TSF, o agravamento dos constrangimentos, mas sublinha que ainda antes de os técnicos de emergência pré-hospitalar entrarem em greve, já a linha 112 tinha atingindo um pico de chamadas
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O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) denunciou este sábado uma "semana particularmente difícil", após duas pessoas terem morrido nos últimos três dias por atrasos no atendimento na linha 112, lamentando a "escassez" destes profissionais. Para Rui Lázaro, líder sindical, não tem dúvidas de que a responsabilidade destas mortes "é, sobretudo, do Estado".
Em declarações à TSF, o presidente da STEPH reconhece que os "constrangimentos não são novos e já são amplamente conhecidos", mas sublinha que "esta semana foi particularmente difícil".
"Segunda-feira registaram-se mais de 130 chamadas do INEM em espera para serem atendidas. Muitas delas foram atendidas já mais de uma hora depois. Quinta-feira voltaram a verificar-se mais de 100 chamadas em espera para serem atendidas e foi neste preciso momento que, em Bragança, um cidadão, depois de mais de uma hora a tentar ligar para a central do INEM, apenas terá conseguido a sua chamada, quando foram acionados depois os meios de emergência médica para uma paragem cardíaca, no momento em que terá dito que o familiar estaria sem respirar há mais de uma hora. Infelizmente, um desfecho trágico. Não só este, mas também um caso de hoje [sábado] que denunciamos, no concelho de Tondela, também uma paragem cardio-respiratória, em que a chamada ficou retida mais de 40 minutos até que foram enviados os meios de emergência médica, infelizmente com um desfecho trágico", conta.
Rui Lázaro justifica as demoras na Linha 112 com a "escassez de técnicos de emergência pré-hospitalar", apontando que os quadros do INEM "deviam comportar 1480 técnicos". No entanto, ao dia de hoje, são "pouco mais de 700".
"Esta escassez tem originado ambulâncias encerradas diariamente por falta de técnicos, mas, sobretudo, a diminuição do número de técnicos a atender chamadas nas centrais do INEM, abaixo de 1/3 do desejável, com a consequência direta dos atrasos que infelizmente têm vindo a ser públicos", lamenta.
O sindicalista responsabiliza, por isso, o Estado por estas duas mortes: "A responsabilidade é sobretudo do Estado, que não tem sido capaz de dar uma resposta direta. Os constrangimentos já vêm do Governo anterior, que pouco fez para reverter a atual situação em que o sistema médico se encontra, mas também deste Governo, que volvidos mais de seis meses desde a tomada de posse - e uma vez que nós representamos, por um lado, o estado do caos em que o sistema de emergência médica se encontra, mas também as soluções necessárias para reiniciar a reversão desta situação calamitosa -, ainda nada fez."
O líder do STEPH avança que "a única resposta" apresentada pelo Executivo às reivindicações foi de que não estaria prevista "valorização no ano de 2024" desta classe profissional e que essa situação poderia "eventualmente" ocorrer em 2025.
"Esta resposta, não só não contribui para a supressão da elevada taxa de abandono da profissão, que supera os 40%, como também não contribui para atrair candidatos para os concursos que, entretanto, vão tendo abertos e que têm ficado completamente vazios", comenta.
O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar iniciou uma greve às horas extraordinárias
na passada quarta-feira, uma paralisação que está prevista por tempo indeterminado.
Rui Lázaro antecipa, por isso, o agravamento dos constrangimentos, mas sublinha que ainda antes de entrarem em greve, já a linha 112 tinha atingindo um pico de chamadas.
"É de esperar que a greve tenha algum efeito no agravar dos atuais e já existentes constrangimentos, mas eles já vêm de há vários anos. O maior pico de demoras de chamadas foi na segunda-feira, quando ainda não estávamos em greve, o que prova bem que eles já existem, mesmo sem a greve", garante.
O líder sindical classifica ainda a greve como "grito de ajuda destes técnicos, o grito à tutela da Assembleia da República", para ser apresentada uma resposta efetiva aos pedidos desta classe profissional.
A TSF já contactou o Ministério da Saúde para comentar a situação "calamitosa" que levou a estas duas mortes, mas, até ao momento, ainda não obteve qualquer resposta.