Em declarações à TSF, Ângelo Fernandes, fundador da Quebrar o Silêncio, realça que "a violência sexual pode acontecer em qualquer fase da vida".
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A associação Quebrar o Silêncio, de apoio a rapazes e homens vítimas de abuso sexual, indicou esta quinta-feira que recebeu este ano uma média de 14,5 pedidos de ajuda por mês, um aumento de 38% relativamente a 2022.
Em comunicado, a associação precisa que "só em abril foram registados 18 novos pedidos de ajuda, num total de 58 novos casos no primeiro quadrimestre de 2023".
A média mensal o ano passado foi de 10,5 queixas.
Em declarações à TSF, Ângelo Fernandes, fundador da Quebrar o Silêncio, revela que o "número de rapazes que estão a pedir apoio pela primeira vez está a aumentar" e que muitas das vítimas "têm à volta de 40 anos", acabando por revelar situações "com mais de 20 ou 30 anos".
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"Sabemos que este aumento, apesar de significativo, continua a não representar a realidade dos homens e rapazes que foram vítimas de violência sexual, uma vez que são poucos os homens vitimados que procuram ajuda. Apesar de ser noticiado frequentemente, este é um tema que continua a ser tabu e não é fácil para as vítimas partilharem as suas histórias de abuso", refere Ângelo Fernandes.
Segundo o representante da associação, apesar de os homens que a procuram terem "em média 39 anos", também chegam pedidos de ajuda de pessoas entre os 16 e os 70 anos, de todas as regiões de Portugal e também de países de imigração de portugueses.
"A nível de escolaridade, estado civil, profissão e de outras características, o espetro é bastante diversificado e não é possível traçar um perfil dos sobreviventes", diz.
O fundador da associação realça que, apesar de a maioria dos casos de abuso sexual ocorrer "na infância", a verdade é que "a violência sexual pode acontecer em qualquer fase da vida".
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"Mesmo que haja uma maior prevalência na infância ou pré-adolescência, não significa que depois na idade adulta não aconteçam também casos de violência sexual. Simplesmente, às vezes, os níveis de tabu e estigma tornam mais difícil para estes homens procurarem ajuda", alerta.
Ângelo Fernandes sublinha ainda à TSF que a maioria dos abusos sexuais acontece "no âmbito familiar ou, então, pessoas próximas".
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"Estamos a falar, por exemplo, de vizinhos, amigos de família ou então professores. Alguém que tinha uma relação de proximidade com a vítima", explica.
Para "informar e capacitar profissionais sobre como os abusadores chegam às crianças e as silenciam, mas também como conquistam a confiança dos adultos cuidadores", a Quebrar o Silêncio está a finalizar "um guia com orientações para a prevenção da violência sexual contra crianças destinado a profissionais e instituições que tenham crianças a seu cargo como é o caso de escolas, campos de férias ou centros de acolhimento", cujo lançamento está previsto para junho.
"É preciso clarificar que a responsabilidade da prevenção cabe aos adultos, à família e às instituições que as crianças frequentam", adianta Ângelo Fernandes.
Desde que foi criada, em 2017, a Quebrar o Silêncio recebeu 652 pedidos de ajuda de homens e rapazes vítimas de abuso sexual.