Aumento da pobreza? Especialista aponta para "grande afastamento entre ricos e pobres"
Em declarações à TSF, o economista Carlos Farinha Rodrigues afirma que "a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza tem de ter outra dinâmica".
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O economista e professor no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG) Carlos Farinha Rodrigues afirma que é "extremamente preocupante" o aumento da pobreza infantil e acredita que os dados esta segunda-feira divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) resultam de um "grande afastamento" entre os rendimentos da classe mais baixa e mais alta.
O número de pessoas em risco de pobreza aumentou para 17% em 2022, tendo sido o grupo etário de menores de 18 anos o mais afetado, indicou esta segunda-feira o INE.
"É extremamente preocupante e o fator mais preocupante é, sem sombra de dúvida, o aumento da pobreza infantil", considerou Carlos Farinha Rodrigues, acrescentando que há ainda "um fator adicional de preocupação: o forte aumento da desigualdade".
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"O agravamento da desigualdade e da pobreza está muito associado à Grande Lisboa. (...) A pobreza na região sobe de 10,4 para 14,7, ou seja, um aumento de 4,3 pontos percentuais", notou.
O especialista Carlos Farinha Rodrigues criticou ainda a Estratégia Nacional Contra a Pobreza, publicada em 2021, e disse estar convicto de que os dados do INE são reflexo de um "grande afastamento dos 10% mais ricos do valor da mediana, onde eventualmente está a classe média, e dos mais pobres".
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"Há aqui um forte agravamento da desigualdade", sublinhou, acrescentando que a estratégia nacional "praticamente não funcionou em 2022 e muito pouco em 2023".
"Se nós queremos de facto alterar a situação em que parece que fica tudo sempre na mesma, a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza tem de ter outra dinâmica e, acima de tudo, os decisores políticos têm que olhar para o combate à pobreza como um princípio orientador das políticas pública de forma determinante", concluiu.
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Os dados esta segunda-feira divulgados pelo INE dão conta que, em 2022, 1.775.514 portugueses eram pobres.
Os dados constam do mais recente Inquérito às Condições de Vida e Rendimentos (ICOR), realizado em 2023, mas relativo aos rendimentos de 2022, e revelam um aumento de 0,6 pontos percentuais (p.p.) em relação a 2021, quando a taxa foi de 16,4%. Este valor representava uma redução de dois p.p. face a 2020.
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"A taxa de risco de pobreza correspondia, em 2022, à proporção de habitantes em rendimentos monetários líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 7.095 euros (591 euros por mês)", explica o INE.
Segundo o organismo, o aumento da pobreza afetou todos os grupos etários, "embora de forma mais significativa os menores de 18 anos", entre os quais a pobreza aumentou 2,2 p.p. relativamente a 2021.
"A taxa de risco de pobreza dos adultos em idade ativa aumentou 0,4 p.p. e a da população idosa aumentou 0,1 p.p.", acrescenta o INE.