"Aumento da situação de pobreza." AMI apoia sete mil pessoas no primeiro semestre do ano
Uma das preocupações da Assistência Médica Internacional prende-se com o aumento do número de migrantes e de pessoas em situação de sem-abrigo. A AMI afirma ter ajudado 1015 pessoas em situação de sem-abrigo, admitindo a falta de capacidade de inserção social
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A Assistência Médica Internacional (AMI) deu apoio de sobrevivência e necessidades básicas a 6772 pessoas carenciadas nos primeiros seis meses deste ano, o que equivale a um aumento de 5% em relação ao mesmo período de 2023.
Os números são reforçados à TSF por Paulo Pereira, da Porta Amiga da AMI em Coimbra. Para o presidente deste centro, o aumento de 5% nunca representará um balanço positivo, já que os resultados, apesar de salientarem a capacidade de ajuda básica da AMI, revelam os altos valores de situação de pobreza em Portugal.
“Nunca pode ser um balanço positivo quando falamos em aumento de situação de pobreza, de instabilidade e de dificuldades. Por outro lado, é um balanço positivo interno, porque ainda temos capacidade de resposta. No entanto, essa capacidade de resposta começa a preocupar-nos bastante, porque, por vezes, os números podem não dizer exatamente do que é que estamos a falar. Houve um aumento de 5%, mas a caracterização das pessoas que nos procuram, as dificuldades que trazem, os problemas que não conseguem ultrapassar sem ajuda e o que ainda fica por fazer apesar da ajuda que vão tendo é que explicam e que nos fazem ter este diagnóstico e esta preocupação com o futuro.”, avança Paulo.
O diretor do centro considera que o custo da habitação é o que mais contribui para as dificuldades das famílias e sublinha ainda o público alvo da sua intervenção, salientando a grande preocupação com os idosos.
“Cada vez mais, contrariamente àquilo que se possa pensar que se está a tentar intervir, os idosos são cada vez mais a população esquecida, a população que já não produz, a população que tem de ir ficando à sua sorte, com rendimentos baixos, mas essencialmente com habitação muito desadequada, que potencia doenças, além de questões psicológicas, do isolamento, da solidão. Nós fazemos também alguma intervenção nesse sentido. Depois temos as pessoas em idade ativa, a maioria não tem emprego, mas mesmo os que têm não conseguem fazer face às suas necessidades. Temos muitas crianças que estamos a tentar apoiar e fazemos um seguimento para tentar verificar se elas estão a conseguir duas coisas muito importantes: manter a escolaridade e ter rendimento e também as questões de saúde, se estão a ser bem observadas, como fazemos também com a população mais velha.”
Uma das preocupações da fundação prende-se com o aumento do número de migrantes e de pessoas em situação de sem-abrigo. A AMI afirma ter ajudado 1015 pessoas em situação de sem-abrigo, dos quais 269 foram novos casos de pessoas a viver na rua, admitindo a falta de capacidade de inserção social destas pessoas.
“Preocupa-nos muito a fase extrema de exclusão, por exemplo, o número de sem-abrigos em Portugal, as pessoas que estão nesta situação têm vindo sempre a aumentar, preocupa-nos muito porque os processos de mudança e de saída dessa situação são cada vez mais difíceis, por questões de emprego ou não, pelo alojamento ou habitação ao nível de preços a que estão. Depois também temos, nos últimos dois anos, o vertiginoso aumento de migrantes a chegar ao nosso país e aos nossos centros da Porta Amiga, em que todos os dias somos confrontados com novas pessoas de novas nacionalidades, falamos de dezenas e dezenas de nacionalidades diferentes, com tudo o que acarreta, ao nível da questão a língua e ao nível da questão burocrática. Não há respostas padronizadas, porque neste momento todos os dias há situações novas, há que readaptar. A AMI com toda a sua experiência e com toda a sua forma de reinventar o dia a dia, ainda está a conseguir dar um apoio de sobrevivência às necessidades básicas. Nós não estamos a conseguir fazer o trabalho da inserção social ou da reinserção.”
A AMI adiantou à Lusa que, das quase sete mil pessoas ajudadas, 71% são portugueses, 9% vêm dos PALOP e 62% está em idade ativa. A fundação distribuiu quase seis mil cabazes, o que significou mais 85% do que os entregues em 2023.
