Há portugueses que começam a não ter carteira para pagar litro a 10 euros ou mais. Setor olivícola começa a ficar preocupado com a situação provocada pela escassez mundial deste produto
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O aumento do preço do azeite devido à escassez mundial está a fazer descer o consumo em Portugal. O litro pode chegar ao consumidor a custar dez ou mais euros e o custo começa a ser proibitivo para pessoas com menores rendimentos. O setor olivícola já olha com preocupação para a tendência e teme que o azeite comece a ser trocado por outras gorduras menos saudáveis, como o óleo de bagaço de azeitona.
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João Veiga, agricultor de Sabrosa, no distrito de Vila Real, prevê que a sua colheita de azeitona deste ano renda "entre 30 e 40 litros" de azeite. É só para consumo dele e da mulher. Mas para não ter de comprar mais, assegura que vai ter de o "poupar". "E então ao preço que está este ano... Credo!"
O conterrâneo Francisco Silva vai ter menos azeite este ano e vai ficar com todo. Não vai vender. Prefere reservar para não correr o risco de ter de comprar mais tarde a dez euros o litro. Um preço proibitivo para algumas pessoas que "não têm possibilidades" financeiras. "Conheço uma senhora que não tem azeitona e que não vai comprar azeite a esse preço, prefere gastar óleo", conta o agricultor.
Francisco Vilela, diretor da Associação dos Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD), refere que a retração do consumo privado devido ao aumento do preço está a preocupar o setor, porque "a maior parte das pessoas não vai ter carteira para aguentar preços elevados do azeite e vai diminuir o consumo".
O vice-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Francisco Pavão, também se mostra preocupado, pois, "sobretudo no mercado de garrafão (5 litros), o consumo tem vindo a baixar". A crise ganha ainda mais relevância, uma vez que o setor está empenhado em "criar todos os dias novos consumidores" e agora vai ter de os "reconquistar rapidamente".
Outra "grande preocupação" de Francisco Pavão tem a ver com as fraudes. Não faltam anúncios, nomeadamente na internet, relacionados com a venda de azeite a preços de antigamente, entre 20 e 25 euros. "As pessoas vão atrás do preço e acabam por consumir o que não é azeite", sublinha.
Francisco Vilela, que também é presidente da Cooperativa dos Olivicultores de Murça, revela que "as pessoas estão a comprar cinco litros de óleo de bagaço, que valem 8,5 euros, mas que são vendidos como azeite ou azeite virgem a 25 euros". Este óleo "é extraído de forma química", pode ser "usado para frituras", mas "não é tão bom para a saúde".
O vice-presidente da CAP apela a que se consuma "azeite devidamente rotulado", porque "não há milagres" e "não é possível comprar, atualmente, azeite a 20 ou 25 euros o garrafão de cinco litros num mercado paralelo".
Em Portugal, a campanha em curso deve render mais 20% de produção de azeitona, mas não compensa as avultadas quebras do ano passado devido à seca.
Outros países grandes produtores, como Espanha, estão com o mesmo problema, a que se soma o aumento dos custos de produção. É isto que explica o grande aumento do preço do azeite ao longo dos últimos meses.
O preço deste produto só deverá baixar quando a produção e a procura estiveram novamente equilibradas em todo o mundo.