Aumento do preço dos combustíveis? "Está a acontecer um descalabro na economia"
O tema da subida de preços dos combustíveis esteve em debate no Fórum TSF. A Confederação dos Agricultores de Portugal lamenta a forma como o primeiro-ministro pôs a questão e o presidente Eduardo Oliveira e Sousa defende a necessidade de "uma intervenção estatal, preocupada com os impactos".
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A subida dos combustíveis está a provocar um descalabro na economia portuguesa. O aviso é do presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, que afirma que, sem uma intervenção do Estado, o impacto será enorme e demolidor. O assunto esteve em debate, esta manhã, no Fórum TSF.
"Está a acontecer um descalabro na economia. Com todos os produtos que estejam agora no setor agrícola a ser recolhidos e que foram lançados à terra há três meses, com preços que foram fixados há três meses, como é que é possível amortecer os custos de aumento da energia da forma como aconteceram?", questiona, sublinhando a necessidade de "uma intervenção estatal, preocupada com os impactos, e que impedisse esse desastre de vir a acontecer".
"Acho que o Governo se portou muito mal nesta questão, tomou uma atitude de atirar areia ou tapar o sol com a peneira, explorando assuntos que não têm nada a ver com a descarbonização", diz.
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Os consumidores já começaram a sentir o impacto na subida dos preços, nomeadamente quando compram alimentos. Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), garante que não há como evitar a escalada se o Governo não mexer nos impostos sobre os combustíveis, que representam boa parte do preço neste setor.
"Se o gasóleo aumentar 1% ou 2%, é fácil de perceber que todo o processo vai ser contaminado por estes aumentos", esclarece.
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Nos setores que consomem muita energia, o panorama é igualmente sombrio. A queixa é de Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e representante da indústria metalúrgica.
"O setor está a sofrer violentos aumentos em todas estas áreas, energia elétrica, gás natural, matérias-primas e também dos combustíveis", refere, acrescentando que, em termos de encomendas, o setor das indústrias metalúrgicas "está bem e recomenda-se", mas está a ser "prejudicado por estes aumentos".
"Esta questão dos combustíveis é uma área onde o governo, de facto, pode intervir para ajudar as empresas, o mercado, os consumidores e as famílias", assinala.
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A receita é, mais uma vez, a redução dos impostos. Também Pedro Silva, da Defesa do Consumidor, avisa que não pode ser desta forma que se mobiliza o país para a descarbonização.
"Não estamos contra a questão da descarbonização e a penalização dos combustíveis fósseis. O que dizemos é que tem que haver aqui uma gradualidade na forma como eles vão sendo abandonados e uma real alternativa, ou seja, não basta dizer que vamos penalizar combustíveis fósseis se do outro lado não temos uma alternativa de mobilidade", considera.
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Na área dos transportes públicos, os preços estão tabelados. Paula Bramão, secretária-geral da Associação Nacional de Transportes de Passageiros, pede ao Governo que haja neste setor uma discriminação positiva, porque já contribui para a descarbonização.
"Torna-se premente que o Governo pense na disponibilização positiva do transporte público, ou seja, que este tenha um nível de carga fiscal diferenciado, porque o setor, no fundo, já contribui de forma muito relevante", explica, dando o exemplo de um autocarro, que "consegue retirar das estradas e das cidades 50 veículos particulares".
"Há aqui, em efeitos de congestionamento e de poluição, um contributo enorme do transporte público para que haja uma diminuição dessas emissões de carbono e da pegada", finaliza.
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